Alemanha, Rússia e Suíça uniram-se, nesta sexta-feira, ao coro da União Européia condenando as declarações do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, que sugeriu que o Holocausto talvez não tenha ocorrido e que Israel deveria se mudar para a Europa. Ahmadinejad, que deu as declarações numa entrevista coletiva em Meca, na Arábia Saudita, na quinta-feira, já tinha dito em outubro que Israel deveria ser "varrido do mapa", o que também causou repúdio internacional.
O Ministério das Relações Exteriores da Alemanha disse que chamou seu embaixador no Irã de volta ao país em protesto, e um porta-voz do ministro disse em entrevista que a Alemanha fez isso para mostrar o quanto está levando os comentários a sério.
- Quando se chama um embaixador de volta, sinaliza-se o começo de algo na diplomacia, que há motivo para uma discussão séria - disse Martin Jaeger.
A agência de notícias oficial do Irã, a Irna, reportou que Ahmadinejad teria dito, sobre o Holocausto:
- Alguns países europeus insistem em dizer que Hitler matou milhões de judeus inocentes em fornos... Embora não aceitemos essa alegação, se supusermos que ela é verdadeira, nossa pergunta aos europeus é: a morte de judeus inocentes por Hitler é o motivo de seu apoio aos ocupantes de Jerusalém? Se os europeus são honestos, deviam dar algumas de suas províncias na Europa, como na Alemanha, na Áustria ou em outros países, para os sionistas, e os sionistas podem estabelecer seu Estado na Europa - disse ele, segundo a agência.
A Grã-Bretanha, atual presidente da UE, e que teve papel importante nas negociações nucleares com o Irã, disse que as declarações "não têm lugar num debate político civilizado".
- O Irã está sozinho na oposição a uma resolução para a disputa árabe-israelense baseada no princípio de dois Estados vivendo lado a lado em paz e com segurança. Peço a todos os Estados que apóiem esssa idéia, e ao Irã que encerre seu apoio a grupos que pretendem miná-la pela violência - disse o ministro das Relações Exteriores britânico, Jack Straw, numa nota da presidência da UE.
O Ministério das Relações Exteriores russo disse, sobre as declarações do iraniano:
"É difícil comentar afirmações tão inaceitáveis. Há fatos históricos bem conhecidos referentes à Segunda Guerra Mundial, incluindo o Holocausto. Esses fatos não podem ser revistos, e todos deviam compreender isso", disse o ministério.
A Suíça, tradicionalmente neutra, também condenou as declarações.
"O Departamento Federal de Relações Exteriores condena veementemente as afirmações ... referentes ao Estado de Israel. Os termos usados pelo presidente iraniano são inaceitáveis ... nenhum dos Estados-membros da ONU tem o direito de expressar opiniões que neguem a existência de outro Estado-membro da ONU", disse o ministério, em nota divulgada na capital, Berna.
O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, e os Estados Unidos também divulgaram condenações veementes às declarações do presidente iraniano. Líderes judaicos da Alemanha pediram a imposição de sanções políticas contra o Irã. Negar o Holocausto é crime na Alemanha.
- Instrumentos políticos desde sanções políticas e econômicas até a expulsão da ONU devem ser seriamente analisados e usados - disse Paul Spiegel, presidente do Conselho Central de Judeus na Alemanha.
As declarações de Ahmadinejad fizeram lembrar a proposta feita pelo líder líbio Muammar Gaddafi em 1990 para que os judeus recebessem uma "pátria alternativa nas Repúblicas Bálticas, no Alasca, na Alsácia-Lorena ou às margens do rio Volga".