Investigadores dos Estados Unidos concluíram que os soldados norte-americanos que mataram um agente italiano que acabava de libertar uma jornalista sequestrada no Iraque não fizeram nada de errado e não devem ser punidos, disse um oficial do Exército na segunda-feira.
Mas a Itália discorda das conclusões do relatório preliminar do inquérito e reluta em dar aval às conclusões, segundo esse oficial, que pediu anonimato.
As tropas norte-americanas balearam o agente secreto italiano Nicola Calipari quando ele levava a jornalista Giuliana Sgrena, também italiana, para o aeroporto de Bagdá, pouco depois de conseguir a libertação dela. Sgrena também ficou levemente ferida.
O incidente abalou as relações entre os Estados Unidos e a Itália, que é um dos maiores aliados de Washington no Iraque.
O oficial do Exército disse que a Itália contesta dois fatos citados no relatório: que o carro de Sgrena e Calipari acelerou ao se aproximar do posto de controle, e sobre a natureza das comunicações entre forças italianas e norte-americanas antes do incidente.
"Os soldados estavam apenas cumprindo os procedimentos-padrão para aqueles postos de controle, e não são, portanto, culpados de prevaricação", disse o oficial do Exército.
"Todos se sentem péssimos com o incidente. Mas, dado o clima de segurança, os procedimentos nos postos de controle têm de ser cumpridos ao pé da letra", disse a fonte.
O presidente dos EUA, George W. Bush, aproveitou uma reunião com o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, no dia 7, em Roma, para lamentar novamente a morte de Calipari, que é agora tratado como herói nacional italiano.
O oficial disse à Reuters que a investigação factual já está concluída, mas que ainda não se sabe se o relatório será divulgado exclusivamente pelos Estados Unidos ou se terá o aval da Itália.
Uma importante fonte de Defesa, que pediu anonimato, disse que o relatório será divulgado "certamente no próximo par de dias", mas teve o cuidado de dizer que não será um texto conjunto, pois os dois países continuam a discutir o assunto.
O oficial do Exército admitiu que "houve de fato má comunicação entre os italianos e os norte-americanos".
A Itália diz que o carro das vítimas ia devagar e não recebeu nenhum alerta, e que as autoridades norte-americanas em Bagdá haviam sido informadas da operação de resgate da refém.
"Há discordância sobre o aspecto da comunicação de quando alguém foi informado e o que aconteceu depois", afirmou o oficial.
Depois do incidente, a Terceira Divisão de Infantaria dos EUA em Bagdá divulgou nota dizendo que os soldados tentaram alertar o veículo dos italianos com sinais de mão e braços, com avisos luminosos e com disparos de advertência.
A nota dizia que o veículo "acelerava" na direção do posto de controle e que os soldados então dispararam contra o motor.
Os iraquianos frequentemente acusam os soldados dos EUA de dispararem à toa em postos de controle de difícil visualização.
Aquele posto de controle havia sido montado lá para proteger a passagem do embaixador norte-americano, John Negroponte, que naquela noite tinha um jantar com o general George Casey, comandante das tropas dos EUA no Iraque.
Em março, Berlusconi anunciou que a Itália vai começar a retirar os seus 3.000 soldados do Iraque em setembro. A Casa Branca disse que essa decisão não tem a ver com a morte de Calipari.