Em pronunciamento feito no Senado, no dia 26 de outubro, o senador Jorge Bornhausen (PFL-SC) anunciou que iria entrar com um processo contra Emir Sader, pelo fato deste tê-lo chamado de banqueiro racista. O artigo de Emir Sader, transcrito no Correio do Brasil, foi motivado pela já famosa frase de Bornhausen: "vamos nos livrar desta raça por 30 anos...", referindo-se ao PT. Entre outras coisas, Bornhausen disse que escreveu uma resposta a Emir na seção de cartas da Folha de São Paulo, "tal a insignificância que tem esse notório cidadão a serviço das más causas". O notório e insignificante cidadão, no caso, é Emir Sader.
Pois bem, alguns senadores petistas (Aloísio Mercadante, Paulo Paim e Tião Viana) e não petistas (Cristóvam Buarque, hoje no PDT) saíram em defesa de Bornhausen. O senador gaúcho Paulo Paim (PT) aparteou o líder do PFL com as seguintes palavras:
- Quero ser muito rápido e dizer que V. Exª foi muito feliz quando de pronto, ao ser provocado, respondeu que não tinha nada a ver com preconceitos contra esse ou aquele setor, contra essa ou aquela raça. Quero ir além ao dar a minha solidariedade a V. Exª, inclusive ao seu Partido. No Estatuto da Igualdade Racial, em debate aqui no Congresso Nacional, o Relator, que concluiu o último trabalho, Senador Rodolpho Tourinho, fez um belíssimo trabalho. Está pronto para ser votado e, efetivamente, vai combater as formas de racismo e preconceito. Digo mais: a Relatora, numa outra comissão, foi a Senadora Roseana Sarney, também do seu Partido. E o Relator, numa outra comissão, foi o Senador César Borges. Então, mostra que V. Exª e o seu Partido não têm nada de preconceito, nem de racismo.
Cristóvam Buarque, que postula candidatura à presidência da República pelo PDT, elogiou o "espírito democrático" de Bornhausen:
- Senador Jorge Bornhausen, agradeço ter-me concedido o aparte exatamente neste momento, continuando a fala do Presidente Sarney, porque ele trabalhou com o senhor de cima e eu trabalhei de baixo, como Reitor da Universidade de Brasília, quando o senhor foi Ministro. Eu quero testemunhar a sua lisura e o seu espírito democrático, além de seu compromisso com a Educação. Não era eu de partido algum naquele momento, mas é óbvio que eu vinha e era parte da esquerda que existia no Brasil. Provavelmente, teríamos muita discordância se conversássemos sobre política, mas nunca conversamos. Recebi do senhor toda a contribuição que foi necessária, todo o respeito e muita democracia, naqueles tempos até conturbados. O Presidente Sarney, como seu chefe, reconheceu isso e eu, como seu subordinado, quero deixar claro o meu testemunho.
Adotando um tom um pouco menos entusiasmado, Mercadante afirmou:
- Senador Jorge Bornhausen, sou petista há 25 anos e sou de esquerda desde que me conheço por gente, desde que comecei a participar da vida na sociedade civil. Tenho orgulho dessas duas condições. Quando li a frase "Nós podemos acabar com essa raça nos próximos 30 anos" - e havia uma interpretação que se dirigia ao PT -, senti-me profundamente agredido, porque, nas duas condições, de ser de Esquerda e ser do PT, carregamos, ao longo da história, um tempo longo de censura, de opressão, de tortura, de uma intransigência que realmente queria acabar com a Esquerda, com todos os instrumentos que estavam à disposição. No entanto, V. Exª escreveu, em mais de uma oportunidade, dizendo que a frase não dizia nem respeito ao PT, nem à Esquerda. Considero extremamente importante na vida pública permitir que as pessoas esclareçam, porque nem sempre o que é publicado é exatamente o que se diz, e quem está na vida pública sabe disso. Portanto, fiquei feliz que aquilo pudesse ser interpretado não com o sentido que alguns deram, porque realmente era uma frase que expressava intransigência e o absoluto descompromisso com os valores do pluralismo, da diversidade e da democracia.
E coube ao senador Tião Viana (AC) colocar a cereja