Rio de Janeiro, 21 de Dezembro de 2024

Dirceu, o contrapeso maquiavélico

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Quarta, 18 de Fevereiro de 2004 às 05:59, por: CdB

As entranhas do poder sempre revelaram uma inclinação para a corrupção. Por mais honesta que seja uma pessoa, eleita pelo simbolismo que representa e não pela experiência política - falo de Lula - a rede que a envolve pesca muito mais do que os princípios permitidos pela ética e pelo bom senso. Na política, há o bom senso, mas ele atua como locomotiva que puxa uma fila de vagões carregados de negociatas. O caminho para o poder é pedregoso, daí as figuras dos sombras da cúpula para nivelar a estrada nos bastidores. Em outras palavras, nenhuma trajetória para os palácios de governo é inteiramente limpa.

A figura intocável de José Dirceu remete à máxima de Maquiavel: "É melhor ser temido que amado". Lula não chega a ser amado pelo povo, mas ficou perto disso na campanha. Dirceu, por sua vez, faz o papel de contrapeso no governo estilo Lula Paz e Amor. É o xerife no Partido dos Trabalhadores, o "temido". Temos, logo, um paradoxo dentro do ninho. O ministro, portanto, não cai. Ele é o outro extremo na balança do otimismo que permeia os governistas, o carrasco - porque todo governo deve ter o seu, mesmo não sendo na figura do presidente.

Mas é justamente esse abismo que separa as figuras de Lula e Dirceu que sustenta um governo ainda desafinado, embora esperançoso. Em meio a eles, em cima do muro, aparece o doutor Palocci e sua fala calma que tranqüiliza o mercado. Um trio que, por enquanto, dá certo e, bem ou mal, segura o país. Dirceu é justamente aquela personagem descrita por Maquiavel. Não que dê cem por cento certo, mas uma prova de que temido, é mais difícil de ser derrubado. Não será um ato isolado de um assessor, cometido antes da glória petista no Planalto, que deixará fora de cena um mestre da politicagem como Dirceu. Pode abalar as estruturas do partido, dividir militantes, mas não tem teor suficiente para destruir uma sigla consolidada em 24 anos de existência.

 A denúncia contra o ex-assessor de Assuntos Parlamentares da Casa Civil serviu para que o PT voltasse os olhos acusadores para o próprio umbigo, e recebeu uma lição: a corrupção é inerente à política, seja ela comandada por governistas ou não.

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