O deputado federal José Dirceu (PT-SP) depôs nesta terça-feira, durante quase seis horas, no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados. Foi a segunda vez, neste ano, em que o Conselho ouviu o ex-ministro-chefe da Casa Civil. No primeiro depoimento, ele falou como testemunha no processo disciplinar do deputado cassado Roberto Jefferson. Agora, depôs em sua própria defesa.
José Dirceu negou qualquer envolvimento no suposto esquema de pagamento a parlamentares em troca de apoio ao governo e afirmou ainda desconhecer os empréstimos bancários feitos pelo empresário Marcos Valério em nome do PT.
- O que está em curso aqui é um julgamento político, mas mesmo no julgamento político são necessário provas ou então uma confissão. Eu não sou réu confesso e não há nenhuma prova testemunhal ou material contra mim. Não é verdade que eu coordenei, participei ou me omiti diante do chamado mensalão. Quero repelir as insinuações de que haja no governo um sistema de corrupção - disse.
O deputado atribuiu parte da atual crise política à disputa pelo poder e à sucessão presidencial em 2006. Para José Dirceu, as pressões feitas por setores da mídia e do Parlamento, para que ele renunciasse ao mandato e para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desisitisse da reeleição, podem ser comparadas a uma tentativa de "golpe branco".
Sobre os recursos que tem apresentado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e no Supremo Tribunal Federal, Dirceu afirmou que faz isso para garantir seu direito de defesa:
- Vou sempre me defender, usar as leis, a Constituição. Não passamos 20 anos lutando pela democracia em vão.
O ex-ministro atribuiu as acusações do deputado cassado Roberto Jefferson a uma insatisfação do petebista com o sistema de avaliação dos indicados pelos partidos da base aliada para cargos no governo.
- A razão do atrito é que sempre me mantive vigilante nas nomeações, verificando se os candidatos tinham condições técnicas para preencher os cargos - avaliou.
Durante o depoimento, José Dirceu reconheceu a possiblidade de ter cometido erros políticos no PT, inclusive na formação de alianças partidárias e apoio a campanhas publicitárias de grande porte.
- Durante o tempo em que estive na Casa Civil, talvez eu devesse ter empregado mais tempo na vida política do PT, mas tinha muitas responsabilidade com o programa de governo. Agora, não vou pedir nada ao meu partido ou ao presidente. Vou me defender sozinho - constatou.