O Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese) não considera a possibilidade de que os reajustes salariais obtidos no ano passado estejam alimentando a inflação. O diretor-técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio, ressalta que desde o início do Plano Real, a renda dos trabalhadores foi reduzida em um terço seu valor real, ou seja, descontada a inflação.
O Dieese divulgou nesta quarta-feira o relatório anual de acompanhamento de negociações sindicais, que apontou que 80,9% das 658 negociações registradas tiveram reajustes maiores ou iguais ao INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apurado nos 12 meses anteriores a cada data-base.
A explicação de Ganz Lúcio é que a renda dos trabalhadores não tem crescido, mesmo com a diminuição do desemprego e os bons reajustes obtidos no ano passado. Ele cita os dados do Relatório Anual de Informações Sociais do Ministério do Trabalho e Emprego em que, segundo Ganz Lúcio, a massa da renda dos trabalhadores caiu 0,3%, apesar do crescimento de 1,5 milhão de novos empregos com carteira assinada. "O que interessa para a inflação é essa massa da renda, o total do rendimento, e isso continua baixo", analisa. Sem o crescimento da renda, não haveria o crescimento da demanda ou aumento do consumo, o que influencia a inflação.
Ele cita o estado de São Paulo como exemplo:
- No estado de São Paulo, onde a economia é mais organizada, 30% da mão-de-obra é trocada todo ano. E o trabalhador entra sempre ganhando menos - explica.
O salário médio na Região Metropolitana de São Paulo recuou para R$ 1.006 em janeiro, o menor patamar nos últimos 20 anos, segundo as pesquisas do Dieese em parceria com a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados e Estatísticas (Seade).
Dieese: aumento de salários em 2004 não gera inflação
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Quarta, 30 de Março de 2005 às 14:22, por: CdB