Mesmo diante de exaustivas evidências, o pensamento econômico tradicional não aceita de bom grado o fato de que o sistema econômico é dependente da biosfera (de um ecossistema global maior – finito e materialmente fechado - embora aberto ao fluxo de energia solar) e, não obstante, reafirma a economia como uma ciência desvinculada da realidade socioambiental.
A natureza, para a economia tradicional, é uma mera "participante” do processo produtivo. Isso é um erro crasso, uma vez que, por essa ótica, não se leva em conta que o sistema econômico necessita da natureza, e não o contrário, tendo em vista que os padrões de consumo e produção dependem, inexoravelmente, dos ecossistemas mundiais.
Desse modo, os economistas tradicionais desconsideram os principais fundamentos biofísico-ecológicos que regulam o sistema natural, ignorando, pois, que esse sistema "sustenta” o sistema econômico, fornecendo matéria e energia para o funcionamento do mesmo.
Em sua vertente tradicional, a ciência econômica continua sendo ensinada partindo-se do pressuposto de que o diagrama do fluxo circular é hermeticamente fechado e isolado; como se nada mais houvesse além das famílias e empresas, insumos, renda e despesas, convivendo num mercado de fatores de produção.
Ora, considerar o fluxo circular "fechado”, como se estivesse numa "caixa isolada” do planeta, sem a penetração da natureza, é abster-se por completo da interrelação existente entre a economia e a biosfera.
Inequivocamente, não há como desconsiderar a íntima relação de troca existente entre o sistema econômico-produtivo e a natureza.
Robert Ayres, um dos mais argutos pensadores da ecologia, resume bem essa passagem: "os serviços energéticos não são apenas parte do sistema econômico, eles são, em grande parte, o que dirige os sistemas econômicos”.
Decorre disso a necessidade em afirmar que a economia deve ser entendida então como um subsistema de um sistema maior: o meio-ambiente. A economia, portanto, está inserida (é dependente) de um sistema maior, finito e materialmente fechado, embora aberto ao fluxo energético, conforme mencionamos.
Ao desconsiderar o sistema ecológico em toda sua amplitude, a teoria neoclássica tradicional ignora o que realmente se sucede em termos de movimentação dentro de um sistema econômico, a saber: entra (materiais) e sai (resíduos); entra matéria e energia, sai ejetada a poluição.
Dessa forma, fluxos de entrada (materiais e energia) e de saída (produtos e resíduos ejetados) precisam ser considerados, e não relegados ao esquecimento como tem sido comum pelas lentes míopes da economia neoclássica. Portanto, é um equívoco enxergar a economia de forma isolada, sem interação com o meio ambiente.
A economia é apenas uma parte de um todo; o todo é o meio ambiente. Nesse pormenor, Clóvis Cavalcanti, uma de nossas maiores referências na Economia Ecológica, diz que "não existe sociedade (e economia) sem sistema ecológico, mas pode haver meio ambiente sem sociedade (e economia)”.
Marcus Eduardo de Oliveira, é economista e professor de economia na FAC-FITO e no UNIFIEO, em São Paulo.
Desvinculada da realidade socioambiental
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Quinta, 27 de Novembro de 2014 às 08:13, por: CdB