Movimentos gigantescos de terra, às margens da Rodovia Amaral Peixoto, na altura do quilômetro seis, têm mais do que intrigado os moradores da área e quem passa a caminho da Região dos Lagos. Trata-se do desmatamento produzido para a aparente extração de cascalho, a apenas alguns metros da sede nacional da Adhonep (Associação de Homens de Negócios do Evangelho Pleno), presidida pelo empresário Custódio Rangel Pires, também proprietário da indústria de plásticos Plastigel, onde também se realiza o corte vertical de uma elevação com cerca de 50 metros de altura. Estas são duas obras que, segundo vizinhos do local, poluem as casas com camadas finas de poeira e têm piorado as condições de saúde de crianças e idosos.
Tanto nas cercanias da Adhonep quanto na Plastigel não há qualquer placa indicativa das obras em curso, instalada em local aparente, como determina a legislação ambiental do Estado do Rio. Na indústria, segundo o departamento de comunicação social, apenas um diretor da empresa poderia falar sobre o assunto mas, até o fechamento desta edição, nenhum deles foi localizado. Na Adhonep, embora o presidente, Custódio Pires, estivesse no local, não pode atender ao telefone, apesar da insistência da reportagem do Correio do Brasil. Apenas uma secretária, que preferiu não se identificar, afirmou desconhecer a propriedade do terreno onde a obra se desenvolve e negou qualquer ingerência da instituição na retirada de terra do local.
Para os funcionários do Hotel Carinhoso, um outro vizinho da obra, no entanto, é de se estranhar que a Associação desconheça a autoria de tamanho movimento de caminhões.
- Eles entram e saem pelo portão da Adhonep, lá embaixo. É um movimento muito grande e a poeira chega a formar uma nuvem, que cobre tudo por aqui. Muita gente já reclamou na Prefeitura de São Gonçalo, mas ninguém que eu saiba tomou qualquer providência - afirmou Raimundo da Silva, zelador do hotel.
No Batalhão Florestal situado a apenas dois quilômetros do local onde ambas as obras acontecem, o assunto não é novo, embora nenhuma investigação tenha acontecido desde que a movimentação de tratores e baculhantes começou, há cerca de seis meses. Oficialmente, o Batalhão preferiu não se pronunciar. Um dos soldados, no entanto, ao constatar a razão da reportagem do Correio do Brasil, optou por falar sem que fosse identificado, temendo por represálias.
- Essas obras são igual ao mensalão, todo mundo sabe que existe, é crime, mas ninguém consegue provar. O desmatamento ocorrido na região é motivo de protesto dos moradores, devido aos riscos que significam para todos. Desde a queda de uma barreira, uma vez que o morro foi completamente desmatado e cortado por escavadeiras, a alguns metros apenas da sede da Adhonep, até as nuvens de poeira produzidas tanto alí quanto na Plastigel, são fatores de intranqüilidade para os moradores - disse o militar.
A relação da Plastigel e da Adhonep com os seus vizinhos não parece ser muito amistosa. Todas as pessoas entrevistadas pelo Correio do Brasil preferiram não se identificar, no momento em que tomavam conhecimento quanto ao teor das denúncias investigadas pela reportagem. Para uma moradora do Colubandê, que sofre com os efeitos da intensa movimentação de terra, "ninguém agüenta mais o descaso das autoridades".
- Aqui a gente já reclamou, já falou, só falta mesmo é promover um protesto, embora eu acredito que nem isso vá adiantar. O pessoal da indústria e dessa associação aí é muito poderoso - disse a moradora.
A Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (Feema), responsável pelo licenciamento de obras e controle ambiental no Estado do Rio, não localizou qualquer processo referente às obras em questão. A Assessoria de Comunicação Social da instituição, no entanto, prefere continuar a busca por empreendimentos no local, antes de se pronunciar oficialmente sobre o assu