Apenas 15 dos 513 ocupantes da Câmara dos Deputados não vão concorrer a nenhum cargo nas eleições de outubro, segundo levantamento do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). Desilusão com a política, custo de campanha, investigação por denúncias de corrupção ou problemas de saúde são os principais motivos que levaram esses parlamentares a desistirem da disputa eleitoral, segundo o Diap.
Deputada suplente pelo PSDB de Tocantins, a dentista Ana Alencar tem retomado aos poucos o atendimento em seu consultório na cidade de Paraíso, a 63 quilômetros da capital, Palmas. Até o final deste ano, ela continua ocupando um gabinete no anexo IV da Câmara. No entanto, já decidiu que não vai disputar a reeleição. Ana Alencar atribui a dois fatores sua decisão de não disputar a eleição: desilusão e falta de dinheiro.
- Cheguei em Brasília com muita esperança, com vontade de trazer benefícios para o nosso estado e vi que não era o que eu pensava. Foi um período muito complicado, com muita CPI, muita corrupção, a ponto dos meus filhos terem vergonha de falar que a mãe deles era uma deputada - afirmou à Agência Brasil.
A questão financeira, no entanto, pesou mais na decisão da deputada.
- Eu não tenho condição financeira de bancar uma campanha agora para deputado federal sem nenhuma doação de empresário. Eu não tenho doações externas e nem como dentista eu tenho condição de bancar uma eleição caríssima. Salário por salário, eu tiro tranqüilo no meu consutório.
Ex-governador do Rio de Janeiro e deputado por três mandatos, o deputado Moreira Franco (PMDB-RJ) escreveu uma carta, divulgada em sua página na internet (www.moreirafranco.com.br) , para explicar as razões que o fizeram desistir da reeleição.
- A primeira, foi a constatação de que a Câmara dos Deputados, afundada no descrédito e na inoperância, mesmo renovada, não terá condições de liderar o processo de reforma política e moral que o país reclama. A segunda, foi o desencanto com o meu partido, o PMDB, por assumir a posição de não lançar candidatura própria à presidência da República e nem apoiar, oficialmente, nenhum candidato para negociar, em nome da 'governabilidade', sustentação parlamentar com o presidente escolhido nas urnas - disse. Segundo ele, a legislatura que se encerra o obrigou "a conviver com os piores momentos da vida parlamentar brasileira".
No entanto, o número de deputados que não vão disputar nenhuma eleição é pequeno se comparado com legislaturas anteriores.
O índice de recandidatura de pessoas disputando o mesmo mandato é maior - compara Antônio Augusto Queiroz, diretor de Documentação do Diap.
Pelo levantamento do Diap, 498 deputados vão disputar as eleições, 438 tentarão a reeleição como deputados federais e outros 45 entrarão na briga por outros cargos eletivos como senador e governador. No caso específico dos 15 que desistiram da disputa de outubro próximo, cinco são acusados de envolvimento nos escândalos que mais repercutiram na atividade parlamentar nestes últimos quatro anos: o mensalão e o esquema de compra superfaturada de ambulâncias.
Segundo o levantamento do Diap, estão fora da disputa de outubro os deputados Ana Alencar, Moreira Franco, Antonio Cambraia (PSDB-CE), Jair de Oliveira (PMDB-ES), Romel Anízio (PP-MG), Anivaldo Vale (PSDB-PA), Bosco Costa (PSDB-SE), Luiz Carlos Santos (PFL-SP), Wanderval Santos (PL-SP), Vittorio Medioli (PV-MG), Roberto Brant (PFL-MG), Zelinda Novaes (PFL-BA), Teté Bezerra (PMDB-MT), José Divino (PRB-RJ) e Edna Macedo (PTB-SP). O deputado Roberto Brant foi apontado como beneficiário do esquema do mensalão. Os últimos quatro nomes estão na lista de parlamentares investigados pela CPI dos Sanguessugas.