Desfiliação de André Vargas 'preserva o PT', afirma Falcão
Arquivado em:
Sábado, 26 de Abril de 2014 às 13:40, por: CdB
Presidente nacional do PT, Rui Falcão apoia a decisão do deputado André Vargas (PR) de pedir desfiliação do PT após denúncias de envolvimento com o doleiro Alberto Youssef "preserva" o partido.
– Essa decisão preserva o PT e mostra que o André Vargas colocou a preservação do PT e a história de 24 anos dele no partido acima de suas preocupações pessoais. Nós apoiamos a decisão dele – afirmou Rui Falcão a jornalistas, neste sábado.
A carta de desfiliação de Vargas foi entregue na véspera e informou que "a desfiliação é automática", cancelada pelo diretório município do político, que é Londrina, no Paraná. Agora, Vargas pretende se dedicar à sua defesa no processo que tramita no Conselho de Ética da Câmara e contará com o apoio dos líderes petistas que foram favoráveis à manutenção de seu mandato.
– Nós vínhamos dialogando – disse Falcão.
O dirigente petista também concordou que Vargas "escolheu essa opção, de deixar o partido".
– Acho que ele quer preservar o mandato – disse ainda Rui Falcão.
Na carta de desfiliação, Vargas diz acreditar que lhe serão asseguradas, no Congresso, as prerrogativas do contraditório e da ampla defesa.
Apoio interno
Cotado para substituir o deputado André Vargas, o também petista Luiz Sérgio (RJ) disse que a decisão do parlamentar paranaense “é uma decisão de foro íntimo dele”.
– Respeito a decisão que ele tomar – disse Luiz Sérgio, ex-ministro de Relações Institucionais e um dos principais líderes da legenda no Estado do Rio.
O deputado fluminense é visto como integrante do grupo de petistas solidários a Vargas, ao lado de José Mentor (SP). A conduta de Vargas é analisada pela Comissão de Ética do PT e pelo Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara. Depois de renunciar à vice-presidência da Câmara, o petista chegou a dizer que abriria mão do mandato por acreditar que, com isso, se livraria do julgamento no Conselho de Ética. O processo, porém, pode não ser encerrado mesmo com a renúncia do deputado investigado.
Depois da divulgação de mensagens obtidas pela Polícia Federal que apontam a proximidade de Vargas com o doleiro Alberto Youssef, preso na operação Lava Jato, o presidente do PT, Rui Falcão tem pressionado Vargas para que renuncie e o líder petista na Câmara, Vicentinho, afirma que Vargas comete um “grande erro” ao fragilizar o governo e o PT por insistir em continuar na Câmara. Segundo Falcão, as denúncias de irregularidades envolvendo o nome dele desgastam ainda mais a imagem do partido, já abalada com o escândalo do ‘mensalão’.
– Você já deveria ter renunciado para evitar tudo isso – afirmou Falcão.
A reunião, na sede do PT, foi tensa. A portas fechadas, o presidente do PT pediu que Vargas deixe o mandato para não prejudicar o partido e as campanhas eleitorais de Alexandre Padilha ao governo de São Paulo; de Gleisi Hoffmann à sucessão no Paraná e da própria presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição. Diante da resistência de Vargas – que levou para a reunião os deputados José Mentor (SP) e Luiz Sérgio (RJ) – dirigentes petistas deixaram claro não haver dúvida sobre sua expulsão do PT, uma vez que o caso já está com a Comissão de Ética da legenda.
Vargas também é alvo de processo no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara, que investiga suas ligações com o doleiro Alberto Youssef, preso pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal, por suspeitas de lavagem de dinheiro e outros crimes.
– Nós sabemos que você não vai conseguir sustentar sua versão dos fatos no Conselho de Ética e no plenário da Câmara – disse Falcão a Vargas.
Mentor, no entanto, rebateu na hora:
– Ele tem o direito de se defender e nós vamos ajudá-lo.
Nos bastidores do partido e do governo, Luiz Sérgio, Mentor e o deputado Cândido Vaccarezza (SP) são chamados de “tropa de choque” de Vargas, que diz contar com o apoio de pelo menos um terço da bancada petista na Câmara. Ainda na reunião com a direção nacional do PT, o deputado disse que tem condições de se defender e rechaçou o pedido do dirigente para que abandonasse o mandato em nome da defesa da imagem da legenda.
Mais tempo
Em uma manobra protelatória socilitada pelo deputado licenciado, o parlamentar José Geraldo (PT-PA) pediu vistas, na véspera ao processo que poderá desaguar na cassação de Vargas, no Plenário da Câmara. Desta forma conseguiu adiar a votação do parecer sobre a admissibilidade do processo disciplinar contra o paranaense, que deveria ter sido votado no Conselho de Ética da Câmara.
Agora, o relatório do deputado Júlio Delgado (PSB-MG), que admite a representação apresentada pelos partidos de oposição DEM, PSDB e PPS e recomenda o prosseguimento de ação por quebra de decoro contra Vargas, somente será votado na terça-feira, dia 29. Se o parecer, de quatro páginas, for aprovado, a comissão terá prazo de 90 dias para decidir a punição ao petista, que pode chegar à cassação do mandato.
Antes da leitura do relatório de Delgado, o presidente da Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), disse que vai cumprir o regimento interno no caso do petista. Ele reafirmou que, se Vargas apresentar pedido de renúncia, ela terá efeito imediato e será o suplente será chamado, mas avisou que, mesmo assim, o processo no Conselho de Ética continuará.