Depoimentos colhidos no Pará pouco esclarecem caso Dorothy, diz Dias

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Publicado sexta-feira, 1 de abril de 2005 as 18:29, por: CdB

Integrantes da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da Terra encerram nesta sexta-feira, em Altamira, as audiências públicas realizadas no Pará com o objetivo de fazer um diagnóstico sobre a estrutura fundiária e os conflitos pela posse da terra na região. A CPMI deve ouvir nove pessoas. Segundo o presidente da comissão, senador Álvaro Dias (PSDB-PR), os depoimentos colhidos até o momento “pouco acrescentam para o esclarecimento do caso (da missionária Dorothy Stang)”.

– Nós já ouvimos diversos depoentes, alguns suspeitos de participação em crimes, e já com passagem pela polícia, mas ouvimos sempre a negativa. Não há confissão e isso acrescenta pouco. É uma música só, são todos inocentes, vítimas de calúnia e difamação – disse o senador.

Os depoentes, que tiveram os sigilos bancário e fiscal quebrados pela CPMI, são alvo de processos judiciais por causa de irregularidades em projetos firmados com a extinta Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). A decisão de ouvir os envolvidos em irregularidades na Sudam foi uma sugestão da missionária Dorothy Stang, assassinada em fevereiro deste ano em Anapu (PA) por sua luta em favor da reforma agrária.

Os parlamentares suspeitam da existência de uma espécie de consórcio para financiar a morte da missionária. De acordo com Álvaro Dias, a comissão tem condições de esclarecer a denúncia.

– Nós, da CPMI, não temos muitos instrumentos para aprofundar as investigações. Nesse terreno criminal, cabe mais à polícia a investigação completa e mais aprofundada, que pode elucidar todas as dúvidas e suposições existentes. O que podemos concluir é que há muita impunidade na região – afirmou o senador.

A possível existência de um consórcio voltou à tona após o primeiro depoimento de Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, fazendeiro acusado de envolvimento no crime da missionária. Em depoimento à PF de Altamira, Vitalmiro disse que outras pessoas estariam envolvidas no crime.

De acordo com o promotor de Justiça do Pará, Lauro Freitas, essa hipótese já foi descartada.

– Não contamos mais com essa hipótese. O Bida cita algumas pessoas (Laudelino Délio Fernandes Neto e Regivaldo Pereira Galvão, o Taradão) que estariam envolvidas nesse consórcio, mas a única relação que ele estabelece com essas pessoas em seu depoimento é uma relação comercial – afirmou o promotor.

Álvaro Dias acredita que a polícia terá dificuldade e muito trabalho para concluir as investigações sobre a morte da irmã Dorothy.

– Não há diferenças nos depoimentos. Todos se referem, basicamente, ao desconhecimento dos fatos. Alegam inocência absoluta e dizem que são vítimas de injúria. Não há, nesse tipo de depoimento, qualquer avanço em relação à responsabilização do crime. Por isso, creio que a polícia terá muito trabalho para concluir os procedimentos – disse ele.

O senador ressaltou que espera inteligência no depoimento do fazendeiro Bida.

– Creio que seria inteligente da parte dele colaborar com a justiça. Com isso, ele pode se valer da legislação, que permite a redução da própria pena, ao colaborar com a justiça. Imagino que viria na defesa do seu próprio interesse que ele esclarecesse os fatos.

Bida está sendo ouvido nesta tarde pela comissão. Segundo Dias, há “alguma esperança que ele fale algo novo” que ajude no caso.

– Ele só terá benefícios com isso – enfatizou.

Álvaro Dias atribui a violência no campo no estado do Pará à falta de autoridades civis e militares capazes de combater o crime na região.

– Precisamos reestabelecer autoridades em todo o interior do Pará, especialmente, na região oeste, para que esse processo de violência e impunidade seja contido – afirmou o senador.

Segundo ele, depois que o deputado João Alfredo (PT-CE) concluir o relatório final da comissão, o Ministério Público poderá aprofundar as investigações e responsabilizar civil e