Rio de Janeiro, 21 de Dezembro de 2024

Cunha sai de cena mas abala equilíbrio de forças entre Temer e Calheiros

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Quarta, 14 de Setembro de 2016 às 11:38, por: CdB

O embate mais recente entre Temer e Calheiros ocorreu quando Cunha ainda dominava o Plenário da Câmara. O presidente do Senado, em abril último, não poupou críticas ao presidente ainda provisório pela "pressa" no encaminhamento ao Congresso da reforma da Previdência

 
Por Redação - de Brasília
  Na velocidade em que segue, ladeira abaixo, em seus relacionamentos pessoais e políticos, o deputado cassado Eduardo Cunha já atropelou mais aliados do que recomenda a cautela e reabre a divisão que atinge o PMDB, legenda que lhe virou as costas e foi decisiva para se chegar aos 450 votos favoráveis à sua cassação, no Plenário da Câmara, há 72 horas. O presidente de facto, Michel Temer, e o presidente do Senado, Renan Calheiros, embora sorriam um para o outro, na cena pública, não é de hoje que representam lados opostos na política nacional. Cunha serviu, durante um período determinado, como o fator imponderável que impedia a colisão entre as forças antagonistas, no PMDB. Este, já não existe mais.
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Cunha representava um fator imponderável na disputa entre Renan Calheiros e Michel Temer
O embate mais recente entre Temer e Calheiros ocorreu quando Cunha ainda dominava o Plenário da Câmara. O presidente do Senado, em abril último, não poupou críticas ao presidente ainda provisório pela "pressa" no encaminhamento ao Congresso da reforma da Previdência, fato que deixou evidente a fratura entre parcela do PMDB e os tucanos, apoiados por sua artilharia de mídia, que seguem aliados ao vice-presidente promovido do Jaburu ao Palácio da Alvorada. Ficou claro, na colisão, a contrariedade de Calheiros às ofensivas do PSDB, com Aécio Neves à proa, que mira a "janela de oportunidade" para se reduzir os direitos do trabalhador no campo previdenciário e, em seguida, na ‘reforma trabalhista’ exigida por investidores, industriais e a classe dominante que patrocinam o golpe de Estado, em curso no país. Renan, no controle do Senado, onde projetos dessa envergadura precisam obter a aprovação de três quintos dos votos para ser aprovados, manobra com cuidado para não estremecer os amplos espaços de interesses na Casa. No Senado, são os fatais 49 votos que, para se verificar a dificuldade em atingi-los, basta relembrar que a retirada dos direitos políticos da presidenta cassada Dilma Rousseff, sem o apoio de Calheiros, chegou a apenas 42 votos. Para fixar, a seco, a idade mínima de 65 anos para aposentadoria, ou a jornada de trabalho de 12 horas seria necessário atingir o quorum máximo da Casa. Sem apoio popular e após ter perdido o fator Cunha, Temer recua. Durante uma cerimônia burocrática, nesta quarta-feira, Temer remendou o discurso e agora diz que vai combater as versões que circulam nas ruas e nas redes sociais de que seu governo irá retirar direitos trabalhistas. Segundo ele, nenhum governo é "idiota" de cortar esses direitos. De acordo com o presidente, a divulgação desse tipo de informação "cria problemas" para o governo. Temer citou, como exemplo, a questão da jornada de trabalho. — Bombou na rede social que o Temer está exigindo 12 horas de trabalho por dia. Isso tudo resultou de um encontro do ministro do Trabalho com alguns sindicatos que lá levantaram uma questão, a partir da participação de trabalhadores da enfermagem, que trabalham 12 por 36 horas — disse o presidente de facto. E acrescenta: — O que ocorreu foi, em uma mera alocução discursiva, a ideia de, quem sabe, se o trabalhador quiser e por força de uma convenção coletiva, o trabalhador passe a trabalhar apenas 4 dias por semana. Portanto faz 12 horas por dia, já incluídas 4 horas extras, e folga 3 dias. Isso foi o que se conversou, mas não foi o que se divulgou — divaga. Segundo Temer, nenhum governo é "idiota" de chegar ao poder para cortar direitos dos trabalhadores. — Convenhamos, é muito desagradável imaginar que um governo seja tão, se me permite a expressão forte, tão estupidificado; tão idiota que chegue ao poder para restringir direito de trabalhadores e acabar com a saúde e a educação. Isso vai pegando e passando de um para outro com o poder extraordinário das redes sociais — afirmou. No último dia 8, a declaração do ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, de que a reforma poderia formalizar a jornada diária de até 12 horas provocou polêmica. No dia seguinte, o Ministério do Trabalho divulgou uma nota afirmando que não haverá aumento da jornada diária e que a as horas trabalhadas por semana (44 no total) não serão alteradas. Nas comemorações dos 50 anos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), o ministro disse que "nunca se cogitou aumentar" a jornada. No jogo de forças que ora se instala entre os lados opostos de um mesmo partido, Temer percebe que sua base parlamentar está mais dividida do que nunca e Calheiros, seu efetivo desafeto, concentra mais poder agora, sem a presença de Cunha no cenário político, do jamais imaginou.
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