Rio de Janeiro, 22 de Dezembro de 2024

Cunha e a bola de cristal de Brizola

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Terça, 28 de Julho de 2015 às 12:29, por: CdB
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Brizola alertou Garotinho sobre o mal que Eduardo Cunha poderia fazer ao Brasil, lembra colunista
Realmente a política brasileira atingiu o fundo do poço. Um dos fatos políticos que envergonha o país é o espaço que ocupa Eduardo Cunha, atual presidente da Câmara dos Deputados. E realmente precisa descer muito baixo para colocar esta figura mafiosa neste cargo terceiro na ordem de sucessão. A trajetória política do Deputado Eduardo Cunha é sintomática. Como os brasileiros de um modo geral, e a mídia conservadora em especial, têm memória curta, vale lembrar como se deu a ascensão desta figura que envergonha o Brasil e que reage aos fatos de uma forma não apenas mafiosa, mas também como um psicopata. Mafiosa sim, pois quando está acuado atira para todos os lados atingindo quem encontra pela frente. É o que ocorreu logo após a revelação do empresário Julio Camargo que pagou 10 milhões de dólares de propina para evitar que Cunha impedisse um negócio na Petrobras. Depois de radicalizar, Cunha ao se sentir só tentou minimizar suas declarações e chegou a concordar com a declaração do vice-presidente Michel Temer segundo a qual o Brasil atravessa uma “crisezinha” com a ida de Cunha para a oposição. Se alguém tinha dúvidas a respeito do lado psicopata de Cunha, bastou acompanhar o pronunciamento que ele fez numa sexta-feira do mês de julho. Cunha olhava para o telepronter (leitura a sua frente) demonstrando desequilíbrio emocional. Estava visivelmente perturbado. Nada disse sobre a acusação de Júlio Camargo. Mas o que se pode esperar de alguém como Eduardo Cunha que entrou para a política como tesoureiro na campanha presidencial de Fernando Collor e em seguida ganhou a presidência da Telerj (empresa, na época ainda estatal, de telefonia) por indicação de Paulo Cesar Farias, o responsável por achaques do então Presidente brasileiro que deixou o cargo para evitar o desfecho de um impeachment que estava para ser votado pelo Parlamento. Na Telerj Cunha já tinha sido acusado de corrupção. Os vínculos com Fernando Collor naquele final dos anos 80 e início de 90 não se resumiram a Telerj. Cunha se tornou secretário do PRN (Partido de Reconstrução Nacional), o partido de aluguel de Collor. Converteu-se e virou evangélico da igreja Sara Nossa Terra, de onde foi expulso e entrou para a Assembleia de Deus. Na política ingressou no PMDB galgando no último mês de fevereiro à presidência da Câmara dos Deputados. Mas a ficha corrida de Eduardo Cunha seguiu no anos 90. Deu a volta por cima e conseguiu a presidência da CEHAB (Companhia Estadual de Habitação do Estado do Rio de Janeiro) no governo de Anthony Garotinho. Ficou pouco tempo, sendo de lá afastado ao ser acusado de corrupção. Respondeu processo, mas contratou bons advogados e de recurso em recurso conseguiu que o processo fosse arquivado por decurso de prazo. É possível que agora tente o mesmo, tanto assim que sem perder tempo os seus advogados ingressaram no Supremo Tribunal Federal para pedir a anulação do processo que corre na justiça do Paraná e o envolve. Não é à toa que o ex-governador Leonel Brizola nos anos 90 advertia ao seu então correligionário Garotinho para “tomar cuidado com esta figura nefasta chamada Eduardo Cunha que poderá fazer muito mal ao Brasil”. Brizola, como ele mesmo dizia, vinha de longe e enxergava na frente. Fez um exercício de futurologia com base em dados concretos sobre Eduardo Cunha. Se Cunha tivesse um mínimo de dignidade se licenciaria do cargo que ocupa até o fim das investigações da Operação Lava Jato e um veredito final sobre as acusações que pairam sobre ele. Mas apostar em dignidade de Cunha é perda de tempo. Falta dignidade a este parlamentar. Em vez de uma atitude de grandeza, Cunha reagiu como um poderoso chefão da máfia. Partiu para o ataque verbal contra o Procurador Geral da República (PGR), Rodrigo Janot, a Justiça e o Executivo. Esperar grandeza desta figura menor como Eduardo Cunha é também perda de tempo. Desde fevereiro quando assumiu a presidência da Câmara dos Deputados, a referida Casa Legislativa tornou-se, na prática, um antro conservador que envergonha a Nação brasileira. Em várias ocasiões devido a Cunha, o regimento interno foi violentado, haja vista a segunda votação do projeto sobre a redução da maioridade penal para 16 anos, e ainda o arremedo de reforma política que manteve o financiamento empresarial de campanhas eleitorais, um dos maiores focos de corrupção do país. O regimento da Câmara impede a votação numa mesma legislatura de um projeto derrotado. Mas Cunha passou por cima com sua máquina de chantagem política. Usou argumento totalmente furado para justificar uma segunda votação do projeto de redução da maioridade penal. No caso da manutenção do financiamento empresarial das campanhas eleitorais para os partidos, Eduardo Cunha se lixou para o que indicam as pesquisas, ou seja, que mais de 50% dos brasileiros são contra essa prática geradora de corrupção. Ele age conforme determina o pensamento conservador. Perde, mas manobra até conseguir ganhar. É isso em linhas gerais o que representa Eduardo Cunha, que ainda por cima ordenou a abertura de quatro Comissões Parlamentares de Inquérito, duas delas pelo menos - uma sobre o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e outra sobre supostas irregularidades em fundos de pensão de estatais - com o objetivo de atingir o governo, que disse ter rompido, como se em algum momento apoiou. É isso aí, cabe então lançar o desafio, espera-se que desta vez Eduardo Cunha não consiga que táticas ao estilo “decurso de prazo” livrem a sua cara e o STF investigue a fundo a denúncia contra esta figura nefasta chamada Eduardo Cunha. Mário Augusto Jakobskindjornalista e escritor, correspondente do jornal uruguaio Brecha; membro do Conselho Curador da Empresa Brasil de Comunicação (TvBrasil). Consultor de História do IDEA Programa de TV trasnmitido pelo Canal Universitário de Niterói, Sede UFF – Universidade Federal Fluminense Seus livros mais recentes: Líbia – Barrados na Fronteira; Cuba, Apesar do Bloqueio e Parla , lançado no Rio de Janeiro. Direto da Redação é um fórum de debates editado pelo jornalista Rui Martins.
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