Rio de Janeiro, 22 de Dezembro de 2024

Crianças dormem na rua para evitar seqüestros rebeldes em Uganda

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Segunda, 14 de Julho de 2003 às 01:05, por: CdB

Milhares de crianças ugandenses pernoitam nas ruas de Gulu, a principal cidade do norte do país, para escaparem dos seqüestros dos rebeldes do Exército de Resistência do Senhor (ERS). 

- Viemos todas as noites, porque temos medo - diz Mary, de 12 anos, que caminha todas as tardes os cinco quilômetros que separam seu povoado da cidade de Gulu.
 
- Fugimos da guerra. Os rebeldes matam a gente e podem nos seqüestrar - acrescenta.
 
Da mesma forma que Mary, mais de dez mil crianças, algumas de cinco anos, peregrinam no final do dia e percorrem distâncias de até dez quilômetros para passar a noite a salvo e, ao amanhecer, retornam para suas aldeias a tempo de ir para o colégio.
 
Amontoados nos pontos de ônibus, as crianças dormem em sacos de milho vazios, pois a maioria não tem cobertores.
 
- Muitas crianças chegam com o estômago vazio e exaustos da caminhada. Às vezes, ouvem-se tiroteios nos arredores e eles começam a tremer - diz Celestino, catequista da Igreja del Santo Rosario, onde se refugiam por noite mais de 2.000 menores.
 
Seu medo é justificado. As crianças sabem que são o principal alvo do ERS, há 17 anos em luta contra o Governo de Uganda. O grupo rebelde é conhecido por seus brutais ataques contra a população civil, normalmente acompanhados por seqüestros de crianças e meninas, utilizadas pelos soldados como escravas sexuais.
 
- A situação de Uganda é bastante única: há crianças-soldados em outras guerras, mas não são recrutados à força. Aqui, acontece uma nova forma de escravidão - ressalta Julius Tiboa, coordenador de um centro que acolhe os menores quando são resgatados, ou fogem dos rebeldes.
 
Segundo a organização defensora dos direitos humanos Human Rights Watch, no último ano, cerca de 5.000 crianças foram seqüestradas pelos guerrilheiros.
 
O ERS é um movimento fundamentalista cristão que iniciou sua luta para impor uma ordem institucional regida pelos Dez Mandamentos bíblicos. Atualmente, porém, eles utilizam menos a retórica religiosa e falam de "derrocar o Governo do presidente Youeri Museveni".

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