O espetáculo do crescimento vai começar com um ano de atraso, avaliou o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) nesta sexta-feira, e a taxa de desemprego só deverá cair apenas depois de dois a três anos de crescimento sustentado.
"O presidente Lula errou a projeção por um ano quando falou que o espetáculo do crescimento começaria em julho do ano passado", disse Luiz Parreiras, economista do Ipea.
"Acreditamos que isso vai acontecer em julho deste ano, com a geração de emprego e com a recuperação da renda e da massa salarial do trabalhador", acrescentou.
A pesquisa de emprego do IBGE de abril, que será divulgada na terça-feira, mostrará uma reversão da tendência da massa salarial, que vem se mostrando em queda, na comparação com igual mês de 2003.
Entre maio e junho o rendimento médio real também reverterá a tendência de fraqueza, em função das trajetórias declinantes da inflação, que teve um crescimento de 1,6 por cento no primeiro trimestre, segundo o Ipea.
Essa retomada da massa salarial deve ajudar a aquecer a economia, disse Parreiras.
"A expectativa é que pela primeira vez, em abril, tenhamos uma avaliação positiva da massa salarial. Os rendimentos estão em uma queda de menos de 2 por cento (na comparação anual) devem mudar de sinal entre maio e junho", disse, ao divulgar um boletim sobre o mercado de trabalho.
"Isso é importante porque o crescimento da economia tem sido puxado desde o ano passado pelas exportações e a depressão dos rendimentos tem sido uma trava para que o mercado consumidor contribua para o crescimento econômico. O mercado interno pode passar a ser uma alavanca para o desenvolvimento."
O economista estima que no final de 2004 haverá uma redução sazonal da taxa de desemprego em função das contratações de final de ano, mas uma queda contínua da taxa só será possível depois de dois ou três anos de crescimento sustentado.
"Se o crescimento econômico não se sustenta nos próximos anos, a tendência é que a taxa de desemprego comece a subir de novo. Só com crescimento por dois ou três anos é que vai haver um reflexo na taxa de desemprego, pois o estoque de desalentados e de pessoas procurando trabalho é muito grande."
O Ipea prevê um crescimento da ocupação de 2,8 por cento este ano.
Segundo ele, o anuúncio pelo governo do "espetáculo do crescimento" gerou uma expectativa muito grande.
"A queda nos rendimentos obrigou muita gente a ir à luta à procura de um trabalho para complementar o orçamento familiar. Além disso, o anúncio do espetáculo do crescimento criou uma expectativa muito grande na população, que correu atrás de um trabalho."
As incertezas de mercados financeiro devem ser debeladas o quanto antes para não retardar as previsões feitas pelo Ipea, ressaltou Parreiras.
"A instabilidade é o elemento mais perverso para o mercado de trabalho... O clima é muito inmportante. Se o governo baixa juros, não perde votação, isso cria uma atmosfera otimista que contribui para o mercado de trabalho", disse Lauro Ramos, economista do Ipea.