A oposição se articula para conquistar o cargo mais estratégico da Comissão Parlamentar de Inquérito que vai investigar denúncia de corrupção nos Correios: a relatoria. A CPI mista dos Correios investigará esquema de propina na estatal, comando por indicados do PTB, partido aliado ao governo, segundo a denúncia da revista Veja.
Para conseguir a relatoria, PFL e PSDB no Senado decidiram se somar em um bloco e assim obter número suficiente para isso. Juntas, as duas siglas alcançam a marca de 29 senadores, sete a mais que o PMDB, maior bancada individual de senadores. A regra para ocupar cargos na CPI é a da proporcionalidade e, como a CPI é mista, deputados e senadores podem disputar os cargos.
Ter a vaga de uma CPI mista significa controlar convocações para depoimentos e solicitações de quebra de sigilos de supostos envolvidos em casos de corrupção. Depois da relatoria, a presidência de uma CPI também é posto estratégico. Se o movimento da oposição vingar, o PT, pelo princípio da proporcionalidade, poderia ficar com o comando administrativo das investigações. A bancada petista na Câmara é a maior, com 91 deputados.
"De acordo com as regras das CPIs mistas, são indicados um senador e um deputado para a presidência e para a relatoria. Então, acho que vai ficar equilibrado", afirmou o senador José Jorge (PFL-PE), em evento do partido no Rio de Janeiro.
É habitual um rodízio do comando entre oposição e situação, assim como é comum o maior partido ceder a vaga para uma legenda aliada se quiser dividir espaço.
Até a criação da CPI, cuja data está marcada para próxima quarta-feira, haverá espaço não só para alterar a lista de apoio parlamentar ao inquérito, mas para negociar a melhor composição possível para conduzir os trabalhos. "Nós nos juntaremos. Achamos que o PT, no Senado, não se junta (em bloco) com o PMDB", argumentou o senador Arthur Virgílio, líder da bancada.
Até agora, os mais cotados pelo bloco PFL-PSDB para assumir função de destaque na CPI são os senadores Demóstenes Torres (PFL-GO), Álvaro Dias (PSDB-PR), e César Borges (PFL-BA). Desses, Torres é visto por colegas como o mais indicado.
O Planalto escolherá a dedo os aliados fiéis para trabalhar nas investigações. Como são os líderes dos partidos quem indicam os membros da comissão, não faltará negociação do governo com parlamentares da base para garantir a maioria na CPI.
"O fiel da balança vai ser o PMDB", disse Virgílio, ao projetar a correlação de forças após o início das investigações. O PMDB é institucionalmente da base de apoio ao governo, mas também é a legenda politicamente mais dividida do Parlamento.