Uma comissão independente sobre denúncias de corrupção no programa Petróleo por Comida da ONU, afirma em seu relatório final que mais de 2 mil empresas pagaram propinas ao regime de Saddam Hussein no Iraque.
O chefe das investigações sobre o escândalo, Paul Volcker, disse que havia sérias vulnerabilidades no programa e entre os seus diretores. A Rússia e a França são os dois países com mais companhias ligadas ao suborno, segundo o documento.
O relatório acusa muitas empresas de pequeno porte, criadas apenas para intermediar transações ligadas ao programa da ONU, mas também grandes companhias européias, como a Siemens, Volvo e DaimlerChrysler.
O banco francês BNP Paribas foi um dos criticados, por não ter agido para coibir a corrupção e por ter escondido informações sobre pagamentos ilegais.
Segundo o relatório de Volcker, Saddam Hussein arrecadou cerca de US$ 1,8 bilhão por meio de propinas e taxas adicionais cobradas ilegalmente no programa. No ano passado, uma investigação da CIA (agência de inteligência dos Estados Unidos) havia afirmado que o ditador embolsara US$ 1,7 bilhão.
O documento afirma que o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, e o Conselho de Segurança falharam em sua obrigação de supervisionar o que se passava.
Mais da metade das companhias envolvidas no programa, de 60 países, são acusadas de ter realizado pagamentos ilegais às autoridades iraquianas para assegurar contratos.
O programa Petróleo por Comida, lançado em 1996, tinha o objetivo de permitir que o Iraque pudesse comprar alimentos, remédios e outros suprimentos de valor humanitário usando o dinheiro arrecadado com a venda de petróleo, sem que isso implicasse na violação das sanções comerciais impostas ao país depois da invasão do Kuwait, em 1990.
A iniciativa buscava ajudar os civis iraquianos, que enfrentavam dificuldades por causa das sanções, e acabou formalmente em 2003 quando as tropas estrangeiras lideradas pelos Estados Unidos invadiram o Iraque e afastaram Saddam Hussein.