Conselho de Medicina proíbe lipoaspiração só para emagrecer

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Publicado quinta-feira, 15 de janeiro de 2004 as 10:21, por: CdB

As 400 mil lipoaspirações realizadas por ano no Brasil terão de seguir as mesmas regras daqui para a frente. O Conselho Federal de Medicina (CFM) estabeleceu parâmetros de segurança para a realização do procedimento. Os médicos não podem oferecer a lipo como uma solução para o paciente emagrecer.

 Pelo resolução do CFM, a cirurgia tem uma indicação precisa: corrigir o contorno corporal, ou seja, retirar pequenas quantidades de gordura localizada. Para conter os exageros, a resolução do CFM estipula limites de gordura que podem ser retirados do paciente numa lipo – 7% do peso corporal quando o médico usar a técnica infiltrativa (que produz menos sangramento) e 5% para a não infiltrativa. Em ambas as técnicas, a lipo ainda não pode ser feita em mais de 40% da área do corpo.

– Dentro desses limites, o benefício do procedimento é maior do que o risco – explicou Antônio Pinheiro, coordenador da Câmara Técnica de Cirurgia Plástica do CFM.

– Acima deles, a lipo se torna muito arriscada. – completou.

Também há regras claras sobre as instalações onde a lipoaspiração pode ser feita e a presença do anestesista durante a cirurgia. Esse especialista tem de participar da lipo quando o paciente é sedado, recebe anestesia geral ou de bloqueio, como a peridural. O anestesista só é dispensável nos casos de pequeno porte, realizados com anestesia local.

O objetivo do CFM foi criar parâmetros de segurança para pacientes e médicos. O trabalho levou um ano e meio para ser concluído e contou com a participação da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP).

– As regras valorizam o trabalho do cirurgião plástico e sua formação – disse o presidente da SBCP, Sérgio Carreirão.

Para ser cirurgião plástico, o médico tem de passar por cinco anos de estudo depois de formado. Os dois primeiros são de residência em cirurgia geral e os três seguintes de especialização em cirurgia plástica.

Erro médico

A iniciativa do CFM foi bem recebida pela Associação das Vítimas de Erros Médicos.

– É tudo o que sempre quisemos para que o atendimento melhore – afirmou Antonieta Kulaif, presidente da entidade.

– Se as normas forem cumpridas, os pacientes terão mais segurança. – completou.

 Em torno de 9% dos 500 casos registrados na associação são problemas com cirurgias plásticas – uns com mortes, outros com seqüelas irreversíveis, como o de Paula (nome fictício), de 44 anos. Aos 35, ela fez a primeira lipo no abdome e nas costas. O resultado deixou a desejar nas costas.

– Fiquei com uma ondulação como se o médico tivesse tirado mais gordura do que devia – afirmou. 

Para corrigir a imperfeição, Paula se submeteu a uma segunda lipo, com outro médico, três anos depois. Em vez de operar só as costas, ela concordou em fazer uma lipo também no abdome.

– O médico me disse que poderia desenhar uma barriga malhada. – conta Paula.

Terminado o pós-operatório, Paula constatou que nada tinha ficado como o médico prometera.

– Minha barriga ficou grande e cheia de ondulações. Também fiquei com gordura nas laterais da cintura. – disse.

Paula já consultou outros médicos na tentativa de reverter seu quadro. A resposta é unânime: não há o que ser feito. “Perdi socialmente, emocionalmente e materialmente.” Paula não consegue vestir biquínis ou maiôs porque tem vergonha de como seu corpo ficou.

 – Deixei de namorar e de sair com amigos quando o programa é praia.- disse.

Ela chora ao lembrar sua história.

– Não deixo nenhuma amiga minha fazer lipoaspiração – afirmou.

Paula processou o médico que a operou e o caso está na Justiça.