A faxina que a Secretaria de Segurança Pública iniciou nesta semana contra policiais corruptos do Rio começou, na verdade, na investigação que é feita sobre traficantes da facção Terceiro Comando (TC). Toda a cúpula da secretaria descobriu que a falta de resultados, como a prisão dos líderes do grupo, se devia ao alto grau de conivência entre traficantes e agentes do Estado. A tal ponto, que há uma série de informações de que o traficante mais procurado do Estado, Paulo César dos Santos, conhecido como Linho, já foi preso e libertado, pelo menos, três vezes pela polícia, tanto civis como militares, após pagar R$ 800 mil de propina em cada oportunidade.
As investigações de todas as delegacias especializadas da Polícia Civil sobre os líderes do TC colocaram sob suspeita integrantes de cinco batalhões da cidade: 9º BPM (Rocha Miranda), 16º BPM (Olaria), 14º BPM (Bangu), 22º BPM (Benfica) e 17º BPM (Ilha do Governador). Justamente unidades responsáveis pelo patrulhamento em áreas com favelas dominadas pela facção e onde, nos últimos meses, tem se registrado uma série de casos violentos. Esta semana, por exemplo, sete PMs do 16º BPM e um do 9º BPM foram presos sob suspeita de matar o guardador Leandro Santos Silva, morador da Favela de Parada de Lucas.
Na região de cada um desses batalhões estão as favelas do Terceiro Comando que mais vendem drogas ou que possuem maior poderio bélico. Comunidades como a Maré, em Bonsucesso, e Dendê, na Ilha do Governador. Antes de iniciar a chamada Operação Transparência, nesta semana, o secretário de Segurança, Anthony Garotinho, e o subsecretário-geral Marcelo Itagiba reuniram, há um mês, na sede da secretaria, 12 delegados e mais o chefe de Polícia Civil, Álvaro Lins, onde cobraram a prisão dos líderes do TC e pela primeira vez reconheceram o alto grau de conivência dos policiais. Não adiantou. As prisões não aconteceram e restou apenas iniciar a "limpeza" dentro de casa. - A coisa é para valer. Não pode haver complacência com os bandidos travestidos de policiais. Quando eles colaboram com o crime são co-autores da morte de um colega de profissão ou de inocentes - analisou o subsecretário Marcelo Itagiba.
Nestes seis meses da administração Anthony Garotinho à frente da segurança pública estadual, o secretário recebeu inúmeras denúncias de policiais que faziam criminosos de reféns para extorquir dinheiro ou então serviam como segurança de alguns deles. Um dos casos foi o de Flávio Pereira da Silva, conhecido como Pará ou Skol. Durante horas, ele foi mantido refém dentro do carro de policiais do 9º BPM (Rocha Miranda). A Corregedoria da PM foi ao local e nada encontrou. Segundo os moradores da favela, ele foi levado para o Destacamento de Policiamento Ostensivo (DPO), onde ficou até o pagamento de R$ 400 mil.
Mas, se depender das informações que chegam à Secretaria de Segurança, não faltam crimes praticados por policiais. Aliás, essa é uma característica do Terceiro Comando, uma facção mais voltada a buscar acordos e a conivência policial do que o Comando Vermelho. Neste caso, PMs têm sido usados para a segurança de criminosos ou de bailes funks no interior das favelas. - Nosso maior problema é a corrupção policial. A conivência está muito grande - reconhece um oficial da PM, ligado à cúpula da secretaria.
Essa ligação entre criminosos e policiais chegou a tal ponto que a Corregedoria Interna da Polícia Militar apura o caso de PMs que teriam levado para o interior de um batalhão armas do tráfico para que passassem por manutenção. O armamento seria de uma favela dominada pela facção Amigo dos Amigos (ADA), aliada do Terceiro Comando.
Na tabela do crime, um baile funk para ser realizado em qualquer favela da cidade precisa pagar R$ 8 mil a policiais. Em alguns casos, a secretaria já foi informada que PMs ainda fazem o patrulhamento em áreas próximas para evitar qualquer tumulto. - Vamos cortar na carne. Doa a quem doer - garante o secretário Garotinho.