Por volta do ano de 1900, a criança tomava apenas a vacina contra a varíola, em injeção única. Um século depois, erradicada a doença, o calendário de 2003 do Ministério da Saúde recomenda vacinas contra 11 moléstias, até os 15 meses de idade: tuberculose, hepatite B, poliomielite, difteria, tétano, coqueluche, meningite por Haemophylus do tipo b, febre amarela, sarampo, rubéola e caxumba. A tríplice (difteria, tétano e coqueluche), que já existe há bom tempo e é aplicada em três doses, agora está associada à antimeningite - o que significa três picadas a menos no bebê.
Para amenizar um pouco mais o desconforto das crianças e a aflição das mães, um grupo de dez pesquisadores da Unicamp testa uma vacina combinada contra hepatite B e tuberculose (BCG), desenvolvida pelo Instituto Butantan, de São Paulo. São outras duas vacinas em uma injeção. Serão monitorados 320 recém-nascidos no Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (Caism) e na Maternidade de Campinas, todos de mães que apresentaram gestação normal (nove meses) e com sorologias negativas para sífilis, HIV e hepatite B. A metade dos bebês receberá a vacina combinada, e outros 160, as vacinas convencionais.
Em dose única, esta vacina combinada é aplicada ainda na maternidade. Um carimbo na carteira de vacinação informa aos postos de saúde que os bebês não devem receber as duas doses subseqüentes contra hepatite B, pois a própria equipe da Unicamp se encarregará de aplicá-las nas visitas domiciliares, dentro dos prazos estipulados - no primeiro e sexto meses de vida. Haverá uma última visita no sétimo mês, em que se coletará sangue para análise dos títulos de anticorpos.
- Até dezembro deste ano, teremos como comparar os dados colhidos no acompanhamento dos dois grupos de bebês - afirma a imunologista Maria Marluce dos Santos Vilela, coordenadora do projeto, que conta com financiamento da Fapesp principalmente para a parte logística, custeando técnicos em enfermagem e materiais como seringas e reagentes, além de transporte.
Professora da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) e responsável pelo Centro de Investigação em Pediatria (Ciped), Marluce Vilela explica que a combinação de vacinas contribui para universalizar a cobertura vacinal: "As maternidades oferecem apenas a primeira dose contra hepatite B, cuja aplicação é recomendada com até 12 horas de vida. Quanto à BCG, como depois as mães precisam recorrer aos postos de saúde, muitas crianças ficam sem ela no primeiro mês. A combinação de ambas vai significar, também, a garantia desta dose contra tuberculose", justifica.