Na tentativa de iludir a Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre as estatísticas reais da doença no país, a China chegou ao ponto de esconder, às pressas, portadores da pneumonia asiática antes que hospitais da capital recebessem a visita de inspetores da entidade. A denúncia foi feita pela revista Time. Em um dos hospitais mais conceituados de Pequim, 31 pacientes que recebiam tratamento contra a SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave), doença potencialmente letal que vem causando alarme em todo o mundo, foram levados para ambulâncias enquanto a equipe da OMS visitava o local, disse a revista. Também em um hospital militar, 40 portadores da superpneumonia teriam sido levados para um hotel enquanto a OMS fazia inspeções no centro médico. O momento em que as revelações vêm à tona poderia causar um grande constrangimento ao governo chinês. Justamente nesta sexta-feira, o presidente Hu Jintao convocou as autoridades a dar apoio total às pesquisas sobre a SARS e a colaborar com as agências internacionais. "(O governo) alertou explicitamente contra o encobrimento de casos da SARS e exigiu um relato acurado, atualizado e honesto da situação da doença" no país, informou a Xinhua, a agência de notícias oficial chinesa. Ultimamente, a OMS vinha criticando a China por não divulgar a presença de pacientes com a superpneumonia em hospitais militares. Ao divulgar sua denúncia, a revista Time citou médicos, que pediram anonimato, do Hospital do Exército da Libertação Popular e do Hospital da Amizade China-Japão. A Time também mencionou um médico aposentado, que confirmou que Pequim continua a esconder, deliberadamente, casos de SARS. "Vi um relatório interno do Ministério da Saúde, que coloca o número de casos confirmados da SARS em Pequim em entre 200 e 300, com base em estimativas individuais dos hospitais", disse o médico. Publicamente, o Ministério da Saúde afirma haver apenas 37 vítimas da superpneumonia na capital chinesa. "Outro documento interno que vi diz que, nos últimos 10 dias, apareceram mais de 100 casos novos em Pequim", acrescentou a fonte médica à Time. A posição do governo O presidente Hu afirmou que a SARS não se trata apenas de uma questão de saúde e segurança, mas afeta também a reforma e o desenvolvimento nacionais. Enquanto a Time denunciava a negligência das autoridades sanitárias, o Politburo exigia que líderes regionais em todo o país contribuíssem para a luta contra a doença. "Eles serão responsabilizados pela situação geral em suas respectivas jurisdições", avisou o comitê. O balanço oficial sobre a incidência da SARS em todo o país dá conta de 1.457 casos, com 65 mortes. A estimativa exclui uma nova morte relatada nesta sexta-feira em Pequim. Na semana passada, o Ministério da Saúde afirmou que os números incluíam os pacientes internados em hospitais militares. Entretanto, autoridades da OMS avaliaram que, se os pacientes militares tivessem sido incluídos, o número total de casos da SARS em Pequim poderia chegar a 200, em vez dos 37 oficialmente relatados. Segundo as leis chinesas, os hospitais militares não são obrigados a informar os casos da SARS às autoridades sanitárias. Em todo o mundo, de acordo com a OMS, já foram detectados 3.573 casos de SARS em 27 países, com 166 mortes. Líderes do sudeste asiático pretendem realizar uma reunião em Bangcoc no próximo dia 29, para discutir meios de impedir que a doença afete a indústria do turismo da região.
China pode estar escondendo portadores da pneumonia atípica
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Sexta, 18 de Abril de 2003 às 06:43, por: CdB