China declara 'guerra à poluição' e anuncia mais reformas na economia
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Quarta, 05 de Março de 2014 às 11:49, por: CdB
A China emitiu o mais claro sinal até agora de que os dias de crescimento econômico estonteante chegaram ao fim, ao prometer travar uma guerra contra a poluição e reduzir o ritmo dos investimentos ao menor nível em uma década para buscar uma expansão mais sustentável. Em um pronunciamento anual ao Parlamento para apresentar um balanço da sua gestão, o primeiro-ministro Li Keqiang disse, nesta quarta-feira, que a meta de crescimento econômico para este ano é de 7,5%, maior índice entre as grandes potências mundiais, mas salientou que o crescimento não poderá atrapalhar as reformas.
Usando termos cuidadosamente selecionados, Li disse que a China, segunda maior economia mundial, buscará promover reformas que afetarão do setor financeiro ao ambiental, gerando ao mesmo tempo mais empregos e renda. Após três décadas de um crescimento superior a 10% ao ano, o que tirou milhões de pessoas da pobreza – mas também contaminou o ar e a água do país e deixou a nação fortemente endividada –, a China deseja reequilibrar sua economia.
– A reforma é a maior prioridade para o governo. Precisamos ter fibra para continuar lutando e romper amarras mentais para aprofundar as reformas em todas as frentes – disse Li a cerca de 3 mil delegados cuidadosamente escolhidos, no seu primeiro pronunciamento no amplo plenário do Parlamento, no centro de Pequim.
Fábricas ociosas serão fechadas, os investimentos privados serão estimulados, a burocracia governamental será reduzida, e a preparação de um novo imposto para a proteção ambiental será acelerada a fim de criar uma economia mais limpa e alimentada principalmente pelo consumo, e não mais pelos investimentos, segundo Li. Para contribuir com essa transição, a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma informou ao Parlamento que o governo terá como meta um crescimento de 17,5% nos investimentos em ativos fixos neste ano, o menor índice em 12 anos.
Os investimentos responderam por mais de metade do crescimento chinês de 7,7% no ano passado. Em 2013, esse quesito teve alta de 19,6%, acima da meta de 18%. As moedas asiáticas tiveram alta com a notícia de que o PIB chinês, de 9,4 trilhões de dólares por ano, permanecerá em viés estável depois do começo turbulento deste ano. Investidores temiam que o governo fosse anunciar uma redução na sua meta de crescimento para o ano.
– Como o crescimento do PIB está previsto para ser de 7,5% por ‘mais tempo', vemos essa meta como favorável para a região asiática, o comércio e as moedas associadas a matérias primas – disse Annette Beacher, analista da TD Securities, em Cingapura.
'Guerra à poluição'
A China, ainda segundo Li Keqiang, vai "declarar guerra" contra a poluição, segundo afirmou na abertura da reunião anual do parlamento em que o governo revelou medidas detalhadas para lidar com a questão que se tornou um problema social e que pode representar ameaça à estabilidade do país.
– Vamos declarar guerra contra a poluição, assim como declaramos guerra contra a pobreza – disse Li, em um discurso transmitido ao vivo pela TV.
A redução da poluição tem sido uma parte importante dos esforços do governo para atualizar a economia do país, mudando o foco de indústrias pesadas e lidando com o problema de excesso de capacidade. Li afirmou que o governo terá como foco inicial a redução de emissões de material particulado no ar e também a eliminação de produtores ultrapassados de energia e plantas industriais, maiores fontes de poluição atmosférica.
A China vai cortar capacidade siderúrgica defasada em um total de 27 milhões de toneladas neste ano, reduzir a produção de cimento em 42 milhões de toneladas e também fechar 50 mil pequenas fornalhas a carvão pelo país, disse Li. As 27 milhões de toneladas de aço, equivalentes à capacidade de produção da Itália, representam menos de 2,5 por cento do total da China e representantes do setor alertam que usinas com capacidade para mais 30 milhões de toneladas anuais começaram a ser construídas no ano passado.
A meta para o cimento representa menos de 2% da produção total do país em 2013. A batalha contra a poluição também será promovida via reformas no preço da energia para incentivar fontes não fósseis. Li prometeu mudar a "forma como a energia é consumida e produzida" por meio do desenvolvimento de instalações de energia nuclear e renováveis, adoção de redes de transmissão inteligentes e com a promoção de tecnologias verdes e de baixa emissão de carbono.