O vice-presidente dos Estados Unidos, Dick Cheney, disse que o candidato democrata à Presidência, John Kerry, "saiu da linha" ao mencionar no debate, na quarta-feira, o fato de uma filha de Cheney ser lésbica. Kerry respondeu que estava apenas elogiando as "famílias sólidas". A frase foi dita quando o candidato comentava a questão do casamento homossexual, que provoca polêmica na campanha eleitoral.
O presidente George W. Bush defende a aprovação de uma emenda constitucional que proíba o casamento gay e, no debate de quarta-feira, disse não saber se uma pessoa pode ou não escolher ser homossexual.
"Acho que se você falar com a filha de Dick Cheney, que é lésbica, ela diria que é quem ela é, que é como nasceu. Acho que, se você falar com qualquer um, (verá que) não é uma escolha", afirmou Kerry, referindo-se a Mary Cheney, que trabalha na campanha republicana.
Logo após o duelo, Cheney deu uma entrevista contestando Kerry. "Eu teria dito ao senador Kerry que ele saiu da linha ao trazer minha filha para isso. Achei totalmente inapropriado", afirmou.
Depois, em um comício na Flórida, Cheney se disse "um pai irado". Sua mulher, Lynne, considerou o comentário do democrata "um truque político barato e de mau gosto".
Em nota, Kerry disse que ele e a família Cheney compartilham o amor por suas respectivas filhas. "Eu estava tentando dizer algo positivo sobre a forma como famílias sólidas lidam com esta questão", afirmou.
Durante o debate, o democrata disse que também é contra o casamento homossexual, mas que o assunto cabe aos Estados. Ao contrário de Bush, Kerry é contra a emenda sobre o assunto, que já foi rejeitada pelo Congresso.
Em vários Estados, haverá junto com a eleição referendos sobre o casamento homossexual. Analistas dizem que isso pode beneficiar Bush, pois levará muitos eleitores conservadores às urnas -- nos EUA, o voto não é obrigatório.
Cheney sempre foi discreto com relação à orientação sexual de sua filha, mas rompeu o tabu em agosto, num discurso a eleitores. Na época, ele disse a eleitores que o casamento homossexual deveria ser uma questão de cada Estado (uma rara discordância pública do vice com Bush) e afirmou sentir orgulho das duas filhas -- a outra é heterossexual.
Na semana passada, em debate contra o candidato democrata a vice, John Edwards, Cheney reiterou sua posição sobre o casamento homossexual. Edwards elogiou o adversário por falar da filha e "abraçá-la".
Cheney agradeceu o adversário por suas "palavras gentis", mas, reservadamente, pessoas da campanha de Bush consideraram o comentário inadequado.
A mulher de Edwards, Elizabeth, se disse surpresa com a reação de Lynne Cheney. "Achei que implicitamente havia algo de vergonha com esta discussão, e francamente isso me deixou triste", afirmou ela à rádio CNN.
Um grupo republicano de homossexuais criticou Kerry por mencionar a filha do vice-presidente, mas também reclamou de Bush por usar o assunto na campanha. "Há uma obrigação moral de parar de usar as famílias homossexuais como questão política", afirmou o militante Patrick Guerriero.
A importante entidade Human Rights Campaign, que defende o casamento homossexual, disse que Bush perdeu uma oportunidade de denunciar a discriminação contra os gays. Por isso, segundo o grupo, Cheney escolheu o alvo errado para suas críticas. "Não é surpreendente que o senador Kerry tenha mencionado a experiência dela (Mary Cheney) como emblemática de milhões de homossexuais norte-americanos."