Sandra Werneck e Walter Carvalho, que assinam a direção de "Cazuza -- O Tempo Não Pára", contaram nesta segunda-feira, em São Paulo, todo o processo de adaptação do livro "Só as Mães São Felizes", de Maria Lúcia Araújo, mãe do cantor, que serviu de base para a preparação do roteiro. "Quando li o livro, soube que daria um grande filme", afirma Sandra.
Foram escritas 12 versões do roteiro e, mesmo assim, algumas histórias do livro acabaram ficando de fora. Inicialmente, a diretora pensava em fazer um docudrama (documentário com algumas cenas ficcionais). "Mas o projeto cresceu tanto que percebemos que isso não daria certo", afirmou.
Entre os assuntos que não foram abordados no filme, está o envolvimento de Cazuza com o cantor Ney Matogrosso. Quando o assunto surgiu na coletiva de imprensa, o primeiro a se manifestar foi o produtor Daniel Filho.
"Chegamos até a pensar em quem faria o Ney Matogrosso: o cantor Paulinho Moska. Mas preferimos optar pelo coletivo. Mostrar só esse pedaço da vida dele seria um risco ao trabalho coletivo", afirma.
Sandra confirma essa opção dizendo que só a relação dos dois daria um filme. "A história deles é linda. Amizade, amor, parceria. Incluir isso no filme deixaria o Ney secundário e isso seria ruim para ele", conclui.
Além disso, o co-diretor Walter Carvalho fez questão de frisar que o filme não é uma biografia. "É uma reflexão, uma representação de momentos da vida do Cazuza, que foi um grande poeta, um grande artista. É uma ficção baseada na realidade."
Essa polêmica sobre ficção e realidade não diminui em nada o resultado final para a equipe. A atriz Marieta Severo, que interpreta a mãe do cantor, acredita que esse é um filme necessário. "A vida do artista precisava ser filmada. E eu fiquei muito tocada com o resultado final. Mas é bom lembrar que a ficção é pequena diante da realidade", diz a atriz.
Marieta, aliás, sempre foi a escolha óbvia para interpretar Lucinha. "Sempre que me encontrava com o Cazuza em festas, ele me dizia que eu parecia com a mãe dele", brinca. Mas ela só se tornou amiga da verdadeira Lucinha quando surgiu o filme.
"Fiquei apaixonada por ele e pela mãe", explica. Ela vai mais longe e diz que o livro se tornou a sua Bíblia.
Se escalar Marieta foi tão fácil, o mesmo não se pode dizer sobre quem seria o protagonista. "Quando fiz os testes não procurava alguém semelhante, mas uma pessoa que tivesse uma 'atitude Cazuza"', conta a cineasta.
Depois de realizar testes com mais de 60 rapazes, Sandra teve certeza de que o ator mineiro Daniel Oliveira era o ideal para o papel. "Os testes eram improvisados e ele interpretou o momento em que Cazuza descobre que é soropositivo. Ficou tão bom que a gente acabou rodando a cena do mesmo jeito no filme", explica.
A partir de então, o ator, que participou das séries de TV "Malhação" e "Brida", mergulhou fundo no universo do cantor. "Tirei a força do Cazuza para fazer o filme. Se fosse covarde, não o teria feito", afirma.
Ele conta que ganhou de Lucinha um pôster do cantor e o fixou na parede do quarto do apartamento que alugou no Leblon, para viver na mesma região onde Cazuza morava. "Todas as manhãs eu olhava fundo nos olhos dele. Além disso, vi muitos vídeos da família, li livros que ele supostamente leu. Até o sotaque carioca eu incorporei", explica.
Tamanha é a aproximação do ator com o personagem que, segundo o diretor musical do filme, Guto Graça Mello, só uma pessoa consegue distinguir quando é Cazuza e quando é Daniel cantando. "Só a Lucinha percebe", afirma.
A relação de Mello com o cantor é antiga. Um dos produtores musicais brasileiros mais famosos, ele não esconde o orgulho de ter trabalhado com Cazuza no primeiro disco do Barão Vermelho.
"Ouvi uma fita cassete e não sabia se aquilo era bom ou não. Levei para o João -- pai do cantor e também produtor musical --, e disse que tínhamos de gravar o disco deles imediatamente, antes que alguém aparecesse e organizasse aquilo", relembra. E