A decisão do ex-banqueiro Salvatore Alberto Cacciola de destinar a uma instituição de caridade todo o dinheiro que receber por seu recém-lançado livro de memórias não comoveu o Ministério Público Federal. O procurador Arthur Gueiros espera apenas o fim do recesso na Justiça, dia 7 de janeiro, para incluir um aditamento no processo de seqüestro dos bens de Cacciola, solicitando que sejam transferidos ao Tesouro todos os recursos provenientes de direitos autorais do livro "Eu, Alberto Cacciola Confesso - O Escândalo do Banco Marka". Até agora, segundo informação da editora Record, R$ 36 mil que caberiam a Cacciola foram transferidos para a Comunidade Casa da Esperança e Vida, com sede em São Paulo. Gueiros argumenta que já existe uma decisão judicial pelo seqüestro de todos os bens do ex-dono do Banco Marka e que, portanto, qualquer nova fonte de renda deve ser usada para ressarcir os cofres públicos, uma vez que a ajuda aos bancos Marka/FonteCindam gerou um rombo de R$ 1 bilhão. O procurador também vai questionar a legalidade da cláusula do contrato firmado com a editora Record segundo a qual toda a parte de Cacciola iria direto para a instituição de caridade. "Vamos questionar essa pseudofilantropia e argüir a nulidade da cláusula. Se ele quer fazer filantropia, faça com os milhões de dólares que tem em bancos suíços que não conseguimos localizar. Primeiro, ele deve cumprir com as obrigações que tem com o Tesouro Nacional", disse Arthur Gueiros. O procurador estima, mas diz que não tem como provar, que o ex-banqueiro tenha pelo menos US$ 30 milhões depositados em contas na Suíça. Em meados de dezembro, Cacciola, que vive foragido em Roma, lançou um livro de 436 páginas, escrito pelo jornalista Eric Nepomuceno, depois de horas de depoimentos colhidos na Itália. Segundo informação da editora Record, o contrato prevê o depósito diretamente para a Comunidade Casa da Esperança e Vida, de atendimento a adolescentes viciados em drogas. Já foram depositados, informa a Record, R$ 21 mil de adiantamento e, no último dia 15, mais R$ 15 mil. A primeira edição do livro teve tiragem alta, de 50 mil exemplares. Vinte e cinco mil foram vendidos e o restante está em sistema de consignação distribuído pelas livrarias. Cacciola responde a processo de peculato, corrupção e gestão fraudulenta e deverá ser julgado no primeiro semestre de 2002. É acusado de ter provocado um rombo de R$ 1 bilhão no Tesouro Nacional, depois da operação de salvamento dos bancos Marka e FonteCindam, que corriam o risco de quebrar, pois apostaram na desvalorização gradual do real, em janeiro de 1999, quando a moeda teve uma forte queda frente ao dólar. No livro, o ex-banqueiro, nascido na Itália, relata como conseguiu fugir do Brasil, em julho do ano passado, depois do habeas-corpus concedido pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Mello e cassado quatro dias depois pelo ministro Carlos Velloso, também do STF, quando Cacciola já estava em Roma. A fuga - Segundo Cacciola, seu filho Fabrizio vestiu uma roupa igual à do ex-banqueiro e saiu em um carro, despistando a imprensa. Com a sede da Polícia Federal do Rio de Janeiro já vazia, Cacciola saiu em outro carro em direção a Parati, de onde seguiu para o interior de São Paulo, no helicóptero de um amigo, depois para a fronteira com o Uruguai, Montevidéu, Buenos Aires e, finalmente, Roma. Cacciola também faz denúncias, como a existência de um suposto esquema de venda de informações privilegiadas no Banco Central antes da desvalorização do real, em janeiro de 1999. O ex-banqueiro garante, naturalmente, que não participava da compra de informações. Cacciola denuncia ainda uma suposta rede de venda de decisões da Justiça do Rio. Relata, ainda, como foram os 37 dias na prisão, quando preparava almoços, financiava reformas na Polícia Federal e dormia quase sempre com a mulher, Adriana.
Cacciola lança livro sobre o escândalo do Marka
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Quinta, 27 de Dezembro de 2001 às 17:46, por: CdB