Nem todos os republicanos pretendem apoiar George W. Bush nas eleições presidenciais de novembro: o principal grupo de republicanos homossexuais decidiu não favorecer um presidente que se opõe categoricamente à legalização do casamento gay.
Após meses para tomar uma decisão, finalmente gays e lésbicas do Partido Republicano do grupo "Log Cabin" ("cabana de madeira", em inglês) optaram nesta semana por abandonar Bush.
O "Log Cabin", principal grupo desse tipo no país, faz referência ao primeiro presidente republicano dos EUA, Abraham Lincoln, que nasceu em uma cabana de madeira e fundou o partido sob os princípios de liberdade e igualdade.
A organização apoiou Bush nas eleições de 2000 e o candidato republicano Bob Dole quatro anos antes. Mas, desta vez, em um ano em que o casamento entre homossexuais foi alvo de um intenso debate nacional, o ocorrido na recente Convenção Republicana de Nova York parece ter sido a gota d'água.
Enquanto os representantes da convenção se preparavam para lançar uma iniciativa de condenação aos pais homossexuais, membros do "Log Cabin", criado na Califórnia no final da década de 1970, protestavam em um parque próximo contra a política de seu próprio partido.
"Alguns nos acusarão de desleais", disse Patrick Guerriero, diretor executivo do grupo, "mas, de fato, a Casa Branca foi desleal com os eleitores homossexuais", acrescentou.
Na opinião de Guerriero, "alguns momentos na história exigem que a crença na justiça e na igualdade não sejam sacrificadas em nome do partidarismo; este é um desses momentos".
O desagrado com Bush chegou longe: esta é a primeira vez desde 1993 que a organização não apóia o candidato republicano à presidência.
Nas disputadas eleições de 2000, um milhão de gays e lésbicas votaram em Bush, segundo dados desse grupo, que indica que 45 mil votos homossexuais corresponderam ao estado da Flórida, onde aconteceu o empate virtual entre Bush e o democrata Al Gore.
O "Log Cabin", cujo conselho de direção tomou essa decisão com 22 votos a favor e apenas dois contra, não critica apenas Bush; também arremete contra John Kerry, o candidato democrata à presidência, que também recebeu críticas por suas bruscas mudanças de opinião nesse sentido.
E assim, o "Log Cabin" indica que o senador por Massachusetts se opôs primeiro ao casamento de casais do mesmo sexo e depois à emenda constitucional para proibir explicitamente essas uniões.
Bush também foi de um lado para o outro: depois de se reunir com ativistas homossexuais em 2000, o presidente declarou ser uma "pessoa melhor" e nomeou vários homossexuais para diversos cargos em sua administração.
No entanto, anunciou posteriormente seu apoio à emenda constitucional, o que Guerriero atribui à "dramática e decepcionante" decisão do presidente de fazer dos interesses dos cristãos evangélicos dos EUA sua prioridade frente às eleições de 2 de novembro.
O grupo, no entanto, também beneficiou-se da atenção recebida neste último ano pela comunidade homossexual e dobrou o número de filiados desde que Bush anunciou seu apoio à emenda constitucional.
No que se refere ao futuro, a organização planeja dedicar seus recursos financeiros e políticos para "derrubar a direita radical".