Rio de Janeiro, 21 de Dezembro de 2024

Bush fez da CIA o seu "bode expiatório". Tudo para norte-americano ver

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Sexta, 09 de Julho de 2004 às 22:51, por: CdB

Nessa sexta-feira saiu o relatório divulgado pela comissão do Senado em Washington, que está analisando os motivos que levaram Bush a invadir o Iraque. Ele aponta falhas da CIA quanto à existência das armas de destruição em massa no país.

Assim como eu já havia escrito nessa coluna, é por causa desse tipo de acusação que os profissionais da CIA vêem com muita cautela as tarefas que lhes são pedidas pela Casa Branca.
O pensamento comum para os veteranos da CIA é "não importa quem esteja ocupando a Casa Branca, dá na mesma. Ele será incapaz de fazer com que o resto do governo mostre resultados, então voltará as atenções para a CIA e a forçará a executar tarefas arriscadas e potencialmente controversas. Mais tarde, quando as coisas ficarem pretas, o pessoal da Casa Branca tira o corpo fora e quem leva a culpa é a CIA".

Foi exatamente o que aconteceu. George Bush já sabia que o Iraque não possuía as tais armas de destruição em massa (ADM). E tanto sabia que esse nem foi o seu motivo inicial para invadir o Iraque.

A primeira razão foi a acusação de que Saddam estava envolvido com os ataques de 11 de setembro. Quando esta caiu, veio a de que o Iraque então teria mantido relações com Osama Bin Laden, financiando e apoiando o terrorismo da Al Qaeda.
O único registro a respeito de uma possível ligação foi uma carta em que Bin Laden pedia a ajuda do ex-ditador para uma ofensiva contra os norte-americanos, mas essa carta não foi respondida.

Acabada a história do terrorismo, Bush partiu para a história de que o Saddam Hussein tinha  armas de destruição em massa, biológicas e químicas.
Essa "certeza" vinha da desconfiança de que ele não teria usado, em cima dos curdos, todo o estoque que os próprios norte-americanos forneceram a ele na época da Guerra Fria. As armas não foram encontradas.

Agora a elegação é de que Saddam teria a "intenção" de produzir ADM. Ora, dizer que a invasão de um país e a morte de mais dezenas de milhares de pessoas se justifica pela "intenção" que o seu governante teria ou não de fazer algo, seria engraçado se não fosse trágico.

George Bush enganou o povo norte-americano quando alegou essas razões para invadir o Iraque, coisa que ele queria fazer desde o início. Quando assumiu a Casa Branca, ele já havia criado uma secretaria especial para cuidar do assunto.
Tudo bem ao velho oeste, onde ele pensa que vive, em que o filho quer vingar o pai. Coisa de texano chucro.

Os ataques de 11 de setembro caíram como uma luva para Bush poder usá-los como pretexto para o seu plano inicial contra Saddam.
Ajudado pela ignorância geo-política da maioria dos norte-americanos que juram que Iraque, Afeganistão, curdos, árabes, turcos, iranianos e por aí afora significam a mesma coisa: terroristas.

Em seu primeiro discurso anual ao povo americano, quatro meses depois dos ataques ao World Trade Center, ele já falava em Iraque e não citou Osama Bin Laden uma única vez.
A CIA está sendo usada como bode expiatório. Seu ex-diretor, George Tenet, pediu demissão sob pressão, para "aliviar" as costas de Bush num ano em que o povo norte-americano o julgará pela invasão ao Iraque e dirá se ele vai ficar ou não, na Presidência nos próximos quatro anos.
Vamos todos torcer pela segunda opção. O velho oeste ficará mais seguro sem George Bush.

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