O assassinato do sucessor do recém assassinado Sheik Yassin na direção do Hamas, Abdel-Aziz Rantissi, é conseqüência direta da aprovação pelo presidente norte-americano George W. Bush da estratégia do primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon: destruir qualquer possibilidade do povo palestino ter seu Estado e existir como nacionalidade. O presidente norte-americano pode ser acusado como co-responsável, como cúmplice, como co-autor do assassinato de Rantissi.
Com os olhos postos nas eleições presidenciais de novembro - como em todos os seus atos - Bush optou por apoiar a estratégia terrorista de Sharon, com plena consciência de como tem atuado o Estado israelense. Desta vez o conluio Sharon/Bush foi mais longe - deseja colocar em prática um plano que não pretende sequer consultar a Autoridade Nacional Palestina, um governo reconhecido pela ONU, com assento nessa instituição.
Dia 22 de março, Yassin foi assassinado. Menos de um mês depois, Sharon viajou a Washington para pedir a benção do governo nortea-americano para seguir adiante sua política de extermínio da resistência palestina e de legitimação da ocupação dos territórios palestinos. Bush apoiou Sharon, sabendo as conseqüências disso. Agora, Washington não pode, algumas horas depois do novo assassinato, expressar algum tipo de crítica ou de reserva, porque esse tipo de ação está inscrita, teórica e praticamente, na política do governo Sharon.
A intenção de Sharon não é a de terminar com o terrorismo, mas - da mesma forma que Bush - a de explorá-lo politicamente, intensificando-o com suas ações. Elas fazem parte do plano anunciado por Sharon em 2 de fevereiro deste ano, de devolução das terras da Faixa de Gaza em um prazo de um ou dois anos. Para que essa inevitável retirada não apareça como uma vitória do Hamas, Sharon anunciou que os outros territórios invadidos serão - se prevalecer sua vontade - definitivamente incorporados ao Estado de Israel, complementado com a construção do muro.
Ao forçar a polarização com o Hamas, segundo afirma o líder pacifista israelense Uri Avnery, Sharon "leva o conflito de uma questão nacional passível de solução para um tipo de conflito religioso, que por sua própria natureza é irresolúvel". Sharon conta com seu cúmplice Bush na direção do "terror infinito".
Emir Sader, professor da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), é coordenador do Laboratório de Políticas Públicas da Uerj e autor, entre outros, de "A vingança da História