Fascinante e contraditório, é assim que vejo e sinto nosso país, batizado com o nome de Brasil, mas também desejado que fosse Terra de Santa Cruz. Esse grande território constituído de seis biomas, essa enorme nação formada por uma infinidade de etnias e populações, é visto, sem dúvida alguma, como uma sociedade cordial, amorosa e fraterna. Mas é também lugar de muita violência, fome e dor. Aqui nessa terra aconteceram e acontecem muitas formas de opressão e exploração humana e ambiental. A vida parece difícil para muita gente, que no dia a dia sofrem os problemas sociais: a falta de emprego, moradia, terra, saúde, educação, segurança e etc. Mas, por outro lado, mesmo as pessoas que mais sofrem, dizem que aqui é um lugar bom de viver.
O nome do nosso país, em vez de Brasil, poderia ser, por exemplo, Terra de Santa Cruz. Este seria um nome com identidade religiosa, mas, mais que isso, talvez indicasse um projeto de nação. Terra de Santa Cruz nos dá a idéia de um país cristão, com a possibilidade de se implantar aqui o projeto de vida das primeiras comunidades cristãs, o autêntico cristianismo que a Europa não soube viver. O projeto que os guaranis viveram no Sul, nas Missões Jesuíticas, de uma sociedade socialista e cristã, poderia ser implantado em outras regiões. Mas, nosso país ficou com o nome vindo da madeira que indicava o "progresso" e a exploração. O invasor levava a riqueza e se aproveitava da mão de obra escrava. Neste cenário começa o processo de construção da nação brasileira. Uma nação que foi sendo construída com a marca da exploração, enquanto que a Terra de Santa Cruz ficou no sonho e no passado.
O nome Brasil, tendo como referência a exploração do Pau Brasil, indica a nossa história passada, que nos é um tanto amarga. Mas também podemos ver nesse nome um outro significado, mais atual, que expressa o Brasil do presente. A madeira que lhe deu o nome já não é abundante como outrora, mas, mais do que nunca, hoje esse nome tem sentido. Brasil é brasa quente, em ebulição, uma sociedade em movimento, acesa e em fase de construção. Somos uma nação que não está pronta, não está parada, estática e, com tudo, tem um futuro brilhante. A brasa até parece mansa, um fogo que se finda, mas pode incendiar. Somos um país de muita energia e vitalidade, como uma brasa. Nos dias de hoje, não pela madeira de nome Brasil, mas pela "brasa", faz sentido chamar nosso país de Brasil.
O Brasil reúne em seu solo uma diversidade étnica e cultural bastante grande, rica de valores e, por natureza, possui uma maravilhosa biodiversidade. Mas é esse país que conhecemos com uma história sofrida e de tantos problemas e uma realidade também bastante complicada. É, pois, um país fascinante e ao mesmo tempo contraditório, sua fotografia atrai e espanta, causa encantamento e indignação. Temos um território tão vasto e com tanta capacidade produtiva, mas com uma enorme e crescente população afastada da terra e jogada na miséria. Nosso povo sofre, mas sabe encontrar razões para ser feliz. Alguns brasileiros são bons no futebol e sabem driblar o adversário dentro de campo, mas a maioria desse povo é craque mesmo em driblar a crise a fazer o gol da alegria, mantendo acesa a brasa da esperança. Brasil!
Frei Pilato Pereira é frade Capuchinho, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), trabalha nos assentamentos e acampamentos do MST e reside no Assentamento Conquista da Fronteira - Hulha Negra - RS. E-mail: pilato@capuchinhosrs.org.br - Site: www.capuchinhosrs.org.br/pilato