Os governos do Brasil e da Argentina, principais sócios do Mercosul, negaram na quarta-feira que exista uma crise política e comercial na união aduaneira, golpeada pela ausência de três dos quatro presidentes de países membros na cúpula sul-americana.
Os presidentes de Argentina, Uruguai e Paraguai deixaram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva como único alto representante do Mercosul em uma reunião de presidentes sul-americanos que se realiza no Peru.
No encontro, foi lançada a Comunidade Sul-Americana de Nações, integrada pelos países do Mercosul, da Comunidade Andina de Nações --CAN, formada por Colômbia, Venezuela, Bolívia, Peru e Equador--, Chile, Guiana e Suriname. O projeto foi impulsionado principalmente por Lula.
"A presença deles (os presidentes) seria desejável. Mas sua ausência é explicável. Isso não é um sintoma de crises nas relações. O Brasil encara isso com naturalidade", disse o assessor especial de Lula para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia.
A Presidência argentina informou que Kirchner não compareceria a Cuzco por razões de saúde. Mas logo depois disso, o presidente argentino disse que iria a reuniões que julgava importantes para seu país, e seu chanceler, Rafael Bielsa, garantiu que às vezes esses encontros são um pouco ociosos.
Lula tem declarado como prioridade de sua política externa a integração sul-americana e o fortalecimento do Mercosul, mas Kirchner tem faltado a vários encontros que visam justamente isso.
Em agosto, Kirchner não compareceu à inauguração em Assunção do primeiro tribunal permanente para resolver conflitos comerciais no Mercosul. Em novembro também faltou à reunião do Grupo do Rio de diálogo político regional, no Rio de Janeiro.
Ao participar da abertura da 3a Reunião de Presidentes da América do Sul nesta quarta-feira, Lula voltou a defender a integração da região e a importância das viagens e conversações para concretizar esse objetivo.
"Vamos continuar fazendo o máximo de esforço que estiver ao nosso alcance, vamos continuar fazendo as conversas possíveis, todas as viagens que forem necessárias para que a integração sonhada por Bolívar definitivamente se concretize nos próximos anos", disse o presidente em discurso bastante aplaudido.
Lula, que desembarcou no aeroporto vestindo um poncho típico peruano, citou em seu discurso as obras de infra-estrutura que estão sendo desenvolvidas e negociadas com os países da comunidade sul-americana. E reforçou o papel que vê para o Brasil nesse processo.
"Eu quero reiterar aqui o que já disse individualmente a cada presidente nas reuniões: o Brasil não é um país rico, o Brasil tem os seus problemas, mas o Brasil sabe a importância que tem a sua participação política no processo de integração", disse Lula no templo do Qoricancha, antigo local inca.
A solenidade chegou a ser interrompida por cinco minutos quando Lula se ausentou, alegando que iria atender a um telefonema.
Kirchner enviou a Cuzco seu vice-presidente, Daniel Scioli, que negou que a ausência do governante significasse um compromisso fraco da Argentina com o Mercosul ou com a integração sul-americana.
"O Mercosul está se fortalecendo e está crescendo. A Argentina crê na Comunidade Sul-Americana de Nações e não está de acordo com a idéia de que há um esvaziamento da cúpula", disse Scioli a jornalistas.
Mas, apesar das palavras, Brasil e Argentina têm tido fortes disputas comerciais.
Em setembro, o ministro da Economia argentino, Roberto Lavagna, propôs em Brasília a introdução de salvaguardas no comércio bilateral para proteger setores de seu país, sujeitos ao poder de grande escala da indústria brasileira.
Nesta quarta-feira, o jornal O Estado de S.Paulo publicou que o governo brasileiro rejeitará a proposta. Garcia, no entanto, não quis comentar qual seria a decisão do governo, que teria sido tomada após reunião de Lula com vários ministros.
"Houve uma posição de absoluto consenso, que será transmitida ao governo arge