Interessado em mudar a lei de telecomunicações antes das eleições gerais de 2006, o primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, acusou as TVs do país de ridicularizarem sistematicamente a ele e ao seu governo.
Berlusconi, cuja família controla o maior conglomerado de mídia da Itália, mencionou sete humoristas que estariam usando a TV estatal RAI para seus ataques satíricos contra ele.
Na última vez em que Berlusconi citou nominalmente críticos seus da TV, em 2002, os três profissionais foram sumariamente demitidos da RAI.
A oposição acusou Berlusconi de tentar censurar seus adversários políticos, como parte de uma estratégia mais ampla para reescrever as leis de telecomunicações italianas antes das eleições, previstas para 9 de abril de 2006.
O novo ataque à mídia italiana foi feito em entrevista para um livro que só será lançado no fim do ano, mas que teve trechos divulgados no fim-de-semana.
Sua ira foi provocada por um programa transmitido na semana passada pela RAI. Nele, havia esquetes contra a esquerda e contra a direita e também apelos por mais liberdade de expressão na Itália.
Esses programas passariam despercebidos na maioria dos países europeus, mas na Itália a sátira política ainda toca um nervo exposto, e Berlusconi se sente especialmente perseguido.
"Este é o mais recente episódio de um sistema de comunicação, a televisão e também a imprensa, que desde 2001 ataca sistematicamente o trabalho do governo e do primeiro-ministro", disse Berlusconi ao escritor Bruno Vespa, famoso jornalista da RAI especializado em livros sobre assuntos da atualidade.
Em seguida, Berlusconi desfiou um rosário de comediantes da RAI que às vezes dirigem seu humor contra o primeiro-ministro.
O líder da oposição de centro-esquerda, Romano Prodi, acusou Berlusconi de tentar criar uma nova "lista negra" e afirmou que a Itália precisa desesperadamente de mais liberdade de imprensa, e não de menos.
O grupo Fininvest, da família Berlusconi, controla as três maiores redes privadas de TV do país, a maior editora e a maior agência de publicidade. Como primeiro-ministro, Berlusconi também tem influência direta sobre a estatal RAI.
O premiê negou na segunda-feira que esteja tentando banir os comediantes da programação, mas disse em nota que seu humor "frequentemente ultrapassa as fronteiras da verdade e do bom gosto" e que a oposição "ocupou" a TV italiana.
Em seu relatório de 2004, a organização norte-americana Freedom House disse que a liberdade de imprensa está sendo ameaçada na Itália, país que ficou em apenas 74o. lugar em um ranking mundial da entidade -- atrás de países africanos como Mali, Gana e Benin.
"A Itália foi rebaixada a ''parcialmente livre' em 2003 devido a uma concentração sem precedentes da propriedade da mídia e do resultante aumento, com mau uso, da pressão política sobre os órgãos de imprensa," disse o relatório da Freedom House.
Berlusconi nega que use sua influência para ditar a programação. Ele quer mudar a lei para permitir que o seu partido, o Forza Italia, exiba anúncios eleitorais pela TV.
Pela atual lei, de 2000, os partidos têm espaço igual na mídia durante as campanhas eleitorais, na forma de um horário eleitoral gratuito. Anúncios pagos são proibidos.
Berlusconi quer regras como as dos EUA, onde cada partido pode comprar o espaço que desejar. Seus adversários temem que o primeiro-ministro, que é o homem mais rico do país, faça uma campanha enorme e ainda obrigue seus adversários a pagarem por espaço em seus canais.