Rio de Janeiro, 21 de Dezembro de 2024

Bento XVI tentará integrar os divorciados à Igreja

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Sábado, 23 de Abril de 2005 às 15:26, por: CdB

Bento XVI poderá anunciar avanços na Igreja muito antes que seus críticos imaginam, já que, antes de chegar ao Papado, preparou quatro documentos considerados "bombas teológico-doutrinais" e que prevêem, entre outras coisas, a reintegração dos divorciados no seio da Igreja.

Neste sábado o ministro da Justiça do Vaticano, o cardeal espanhol Julián Herranz, admitiu ao jornal italiano La Repubblica que a Igreja vai discutir o direito de comunhão para as pessoas divorciadas.

Com este gesto, a Cúria deixará claro que o cardeal alemão, caracterizado por sua pureza doutrinária, e o novo papa não têm por que seguir o caminho esperado por seus detratores.
Além disso, ante o crescente número de divórcios na sociedade, esta questão é, sem dúvida, uma das mais urgentes às quais a Igreja deve dar uma resposta.

Com esta possível abertura, Bento XVI se converteria num papa inovador e devolveria as esperanças a milhares de católicos de todo o mundo que se viram excluídos da Igreja pelo simples fato de um fracasso matrimonial.

"O problema dos católicos divorciados e casados em segundas núpcias é um assunto sensível sobre o qual a Igreja deve fazer perguntas e conversar a respeito", admitiu o cardeal espanhol, membro reconhecido da poderosa prelazia conservadora Opus Dei.

Herranz, que é presidente do Conselho Pontifício para os Textos Legislativos e da Comissão Disciplinar da Cúria Romana desde 1999, reconheceu que existem vários documentos a respeito preparados pelo cardeal Joseph Ratzinger quando era responsável pela Congregação da Doutrina da Fé.

Segundo estes texto, a Igreja poderá admitir que o cônjuge foi abandonado, ou seja, se viu "obrigado" a se divorciar e depois voltou a se casar no civil para poder formar uma família, o que não apagaria a "falta", mas sim a reduziria.

Atualmente, segundo a doutrina católica, os divorciados que contraem matrimônio civil em segundas núpcias não podem receber a comunhão.

Por outro lado, pessoas que estão na prisão por ter cometido grandes delitos podem receber o sacramento, o que é interpretado por uma parte da Igreja como uma terrível incoerência e uma grande injustiça.

No passado, estas normas rígidas do Vaticano suscitaram inúmeros protestos, inclusive entre bispos e cardeais, que fizeram chegar suas propostas de modernização ao então cardeal Ratzinger.

Por outra parte, outro dos textos preparados pelo atual papa faria referência à aposentadoria de religiosos. Segundo Herranz, é necessário que a idade para que bispos e sacerdotes se aposentem da vida ativa seja prorrogada até os 75 ou 80 anos.

"A essa idade, um bispo que não tiver problemas de saúde possui uma experiência que só pode beneficiar a Igreja", assegurou o religioso.

A estas duas importantes novidades se somariam outros dois documentos, um sobre a unidade dos cristãos e outro sobre a natureza divina de Cristo, também preparados pela Congregação para a Doutrina da Fé.

Todos eles poderão ser aprovados em breve por Bento XVI, que no início de seu pontificado já deu outros sinais que fazem pensar que a imagem de Ratzinger, guardião inquebrantável do dogma, não será o rosto do novo papa.

Em suas primeiras intervenções, o Pontífice já defendeu o diálogo com outras religiões, uma direção mais colegiada da Igreja e a fidelidade ao Concílio Vaticano II (1962-65).

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