Rio de Janeiro, 21 de Dezembro de 2024

BC reduz juros mas medida não atenua recessão, afirma sindicalista

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Quinta, 12 de Janeiro de 2017 às 13:54, por: CdB

Segundo o presidente da CTB, Adilson Araújo, a redução dos juros “é insuficiente para destravar a economia. Se o BC diz que a inflação era o principal motivo para a alta dos juros é de se estranhar que os juros não caiam na mesma proporção da inflação”

 

Por Redação, com ACS/CTB - de São Paulo

 

Uma redução que pouco influenciará na conjuntura e que não mudará o cenário de crise que o Brasil vive hoje”, avaliou o presidente da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Adilson Araújo, ao comentar a redução da taxa de juros Selic anunciada nesta quarta-feira pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC). De acordo com a nota, o Copom reduziu a taxa de juros de 13,75% para 13%. Mesmo com o corte, o país segue líder mundial de juros.

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Presidente da CTB, Araújo aponta discrepâncias na política econômico em curso no país e critica as últimas decisões do BC

Segundo ele, a redução “é insuficiente para destravar a economia. Se o BC diz que a inflação era o principal motivo para a alta dos juros é de se estranhar que os juros não caiam na mesma proporção da inflação”. E completou:

— Mesmo com a inflação em queda, os juros reais ainda são os mais altos do mundo. Não haverá alívio.

Heranças

Dados de taxa de juros nominal em relação à expectativa de inflação, coletados no IPEAdata, para o período de 2010 a 2016, comprovam uma relação desapartada entre os juros e a inflação.

— Para enfrentar a crise fiscal é preciso reduzir substancialmente a taxa de juros, reestruturar a dívida pública, combater a sonegação e realizar uma reforma tributária progressista que desonere o trabalho e tribute mais o capital financeiro, aumente o imposto sobre heranças, os lucros (sobretudo os obtidos com a especulação financeira) e taxe as remessas de lucros e dividendos ao exterior — afirma o dirigente sindical.

Araújo lembra que a crise, aqui como em todo o mundo, é uma produção do capitalismo e dos capitalistas.

— Lutaremos para que seja paga pelos ricos — disse.

O Brasil precisa crescer, mas a atual política monetária, em aliança com as políticas fiscal e cambial, tem sido o grande obstáculo à realização deste objetivo nacional.

Círculo vicioso

É bom registrar que a política de juros altos desestimula o investimento e é um dos principais fatores para o processo de desindustrialização que ocorre no Brasil. Ou seja, reduz o aumento da capacidade produtiva. Ao final, a economia não cresce e cria-se um círculo vicioso: a baixa oferta provoca mais inflação, que faz os juros subirem mais, que inibe novos investimentos, o que, ao final, leva a taxas de investimento mais baixas.

E mais, os juros altos também desestimulam o consumo. E sem ter consumidores, os empresários decidem reduzir sua produção, e diminuem as contratações. Mais gente sem emprego significa menos consumo, e o círculo vicioso se perpetuaria.

Araújo lembra que o Brasil segue ocupando o primeiro lugar no ranking dos países que possuem as maiores taxas de juros real, descontada a inflação.

— Os investimentos somente voltarão se houver consumo e redução do desemprego — acrescentou.

Juros básicos

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central confirmou mais uma vez as expectativas do mercado. Reduziu, novamente, na noite passada, a taxa básica de juros, desta vez com mais intensidade, em 0,75 ponto percentual, para 13% ao ano. Foi o terceiro corte seguido – os anteriores haviam sido de 0,25 ponto cada. A decisão foi unânime e sem viés.

A Selic permaneceu em 14,25% do final de julho de 2015 até outubro do ano passado, quando teve duas reduções antes da decidida nesta quarta (11), no encerramento da reunião do Copom. Os 13% significam o menor nível em quase dois anos, desde março/abril de 2015. Em termos reais, descontada a inflação, a taxa é de 6,31%, quase duas vezes maior que há um ano.

Já se esperava uma redução maior da taxa de juros devido às previsões de que a crise econômica vai durar mais do que se previa. O anúncio feito nesta quarta da inflação oficial (IPCA) de 2016, em 6,29%, abaixo do teto da meta, reforçou essa expectativa.

Política monetária

“O conjunto dos indicadores sugere atividade econômica aquém do esperado. A evidência disponível sinaliza que a retomada da atividade econômica deve ser ainda mais demorada e gradual que a antecipada previamente”, diz o Comitê, em nota divulgada ao término da reunião. “A inflação recente continuou mais favorável que o esperado. Há evidências de que o processo de desinflação mais difundida tenha atingido também componentes mais sensíveis à política monetária e ao ciclo econômico.”

No comunicado, o Copom diz que avaliou reduzir a taxa básica para 13,25%, sinalizando intensidade maior para a próxima reunião, marcada para 21 e 22 de fevereiro. “Entretanto, diante do ambiente com expectativas de inflação ancoradas, o Comitê entende que o atual cenário, com um processo de desinflação mais disseminado e atividade econômica aquém do esperado, já torna apropriada a antecipação do ciclo de distensão da política monetária, permitindo o estabelecimento do novo ritmo de flexibilização”.

Teto de gastos

Para o presidente da Força Sindical, o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (SD-SP), a redução é positiva, mas insuficiente. “Esperamos, agora, que esta queda anunciada pelo Copom seja o início de uma nova etapa, com juros mais baixos. Reduzir os juros é um primeiro e decisivo passo rumo à recuperação da economia nacional”, afirmou, em nota.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) considerou a decisão acertada “diante da forte desaceleração da inflação e da frustração das expectativas de recuperação da atividade econômica”. Mesmo considerando a medida importante para a recuperação, a entidade acrescenta que “uma trajetória sólida de redução dos juros e a manutenção das taxas em patamares baixos no longo prazo dependem do avanço das medidas de ajuste fiscal”.

A CNI cita a emenda de teto de gastos, já aprovada, e a proposta de reforma da Previdência, em tramitação no Congresso.

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