Os autoproclamados governantes de Bagdá anunciaram nesta quarta-feira que vão usar fundos do governo do Iraque para pagar os salários de todos os funcionários públicos este mês - com um aumento de 1.000% - e se vangloriaram de estar reparando a rede elétrica, distribuição de água e hospitais. Eles também garantiram que o Exército dos EUA reconhece a autoridade deles, se reúne diariamente com eles e até mesmo os transportou em veículos militares do Kuwait a Bagdá. Os Estados Unidos afirmam desconhecê-los. Em meio ao vazio de poder deixado por três décadas de ditadura de um único homem, ainda não está claro quem está governando o Iraque, ou se alguém o está. Jay Garner, um general da reserva dos EUA, é responsável pela restauração dos serviços públicos no Iraque até que um governo interino seja formado. Mas Mohammed Mohsen al-Zubaidi, um exilado iraquiano, parece estar se antecipando a esses planos, consolidando seu poder em Bagdá - e sobre todo o país, assumindo o controle de fundos dos cofres do governo nacional para sua própria administração embrionária. Numa reunião nesta quarta-feira com líderes e cidadãos comuns, al-Zubaidi prometeu aos funcionários públicos que eles irão ser pagos em 30 de abril, e que seus salários serão aumentados em 10 vezes. Segundo ele, os fundos virão de uma conta do Ministério das Finanças no Banco Nacional Iraquiano. "Ordenamos ao comitê de finanças para aumentar os salários depois de ouvirmos falar das reservas de que dispomos", explicou ele à multidão reunida num auditório do Sheraton Hotel. "Estamos aumentando os salários em 10 vezes, tanto para os civis quanto para os militares". Al-Zubaidi proclamou que "a era de Saddam Hussein está terminada" e disse aos iraquianos que o antigo governo abusou deles. "A política de Saddam para o povo iraquiano era baseada na idéia de que se você deixa seu cachorro faminto, ele irá segui-lo", analisou. As conexões políticas de al-Zubaidi continuam obscuras. Inicialmente ele foi apresentado como um alto assessor do líder do Congresso Nacional Iraquiano (CNI), Ahmad Chalabi. Mas agora, al-Zubaidi nega qualquer vínculo com o líder do CNI. Chalabi, que estabeleceu escritórios no clube de caça de Bagdá, é impopular na capital iraquiana. Um ex-banqueiro, ele foi condenado à revelia em 1992 por um tribunal jordaniano por desfalque, fraude e quebra de confiança depois que o banco que administrava faliu, deixando um prejuízo de US$ 300 milhões com correntistas. Chalabi fugiu do país antes de ser acusado formalmente. Numa entrevista, um vice de al-Zubaidi, general Jawdat al-Obeidi, disse que o gerente-geral do Banco Nacional Iraquiano - assim como diretores de outros bancos - estavam entregando ao autoproclamado governo de Bagdá fundos depositados em suas instituições. "Não temos nenhum governo legal. Trata-se apenas de um comitê local", admitiu. Al-Obeidi, um ex-general do Exército iraquiano que nos últimos quatro anos dirigiu um serviço de limusines em Portland, EUA, garantiu que não são apenas os bancos que reconhecem seu governo, mas também os militares americanos. "Estamos trabalhando como uma equipe com os americanos. Estamos nos reunindo com eles todos os dias", alardeou. Segundo ele, seu grupo reuniu-se com responsáveis pelos assuntos civis do Exército dos EUA, assim como com comandantes militares; ele disse que os encontros foram realizados sem a presença da mídia a pedido dos EUA. O governo americano tem insistentemente negado ter qualquer contato com al-Zubaidi e sua administração. Barbara Bodine, a coordenadora dos EUA para a região central do Iraque, anunciou na última segunda-feira (21). "Na verdade, não sabemos muito sobre ele, a não ser que ele se declarou prefeito. Não o reconhecemos". O general Vincent Brooks, vice-diretor de operações para o Comando Central dos EUA em Catar, reconheceu na semana passada que al-Zubaidi era "um líder emergente e merece alguma atenção". Mas "até que todo o processo seja
Autoproclamado prefeito de Bagdá anuncia aumento de 1.000% em salários
Arquivado em:
Quarta, 23 de Abril de 2003 às 13:00, por: CdB