Rio de Janeiro, 21 de Janeiro de 2025

Assessores presos e demissionários mostram governo fraco e isolado

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Quarta, 24 de Maio de 2017 às 12:36, por: CdB

Como sói ocorrer em governo prestes a cair, uma série de defecções teve início no Palácio do Planalto. Nesta manhã, foi a vez do ex-deputado Sandro Mabel (PMDB-GO) deixar o governo

 

Por Redação - de Brasília

 

No início da tarde desta quarta-feira, os Três Poderes funcionavam precariamente. “A Camara (dos Deputados), vazia. O Plenário do Supremo (Tribunal Federal) reunido, julgando questões que poderiam ter morrido na Primeira Instância. O Plenário do Senado com pouco movimento. Mas a Comissão de Constituição e Justiça lotada, e com debates”, sintetiza o jornalista Hélio Fernandes, editor-chefe do diário eletrônico Tribuna da Imprensa, na sua página, em uma rede social. A governabilidade do presidente de facto, Michel Temer, se esvai rapidamente.

mabel.jpgSandro Mabel pediu demissão do governo. O ex-deputado é investigado pela
Operação Lava Jato

Como sói ocorrer em governos prestes a cair, uma série de defecções teve início no Palácio do Planalto. Nesta manhã, foi a vez do ex-deputado Sandro Mabel (PMDB-GO) deixar o governo. Trata-se do quarto assessor direto de Temer a deixar o gabinete, em meio a denúncias de corrupção. Além de Mabel, José Yunes, Rodrigo Rocha Loures e Tadeu Fillipelli pediram demissão ou foram demitidos por envolvimento em inquéritos policiais.

Na semana passada, o Ministério Público (MP) de Goiás pediu a instauração de inquérito para apurar supostos pagamentos ilícitos feitos, em 2010, por ex-executivos da construtora Odebrecht ao então deputado Sandro Mabel. O valor seria de R$ 100 mil. A quantia teria sido paga em recursos não contabilizados. Ainda assim, foram registrados no sistema usado pela empreiteira para contabilizar pagamentos em propina.

Governo fraco

Tido como um dos principais articuladores do governo, Mabel despachava no terceiro andar do Palácio do Planalto. Era um dos principais interlocutores do presidiário Eduardo Cunha (PMDB-RJ), junto ao governo. 

Fillipelli, o advogado José Yunes e o suplente de deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) também constam na lista de investigados na Lava Jato. Estariam envolvidos em esquemas de pagamentos de propina. Ambos foram citados por delatores em delação premiada junto ao juiz Sérgio Moro, de Curitiba.

Loures foi acusado, em delação de executivos do Grupo JBS, de receber propina em uma mala de viagem. Ele aparece em um vídeo gravado pela PF, correndo com uma mala com R$ 500 mil repassados pela empresa. Segundo o empresário Joesley Batista, Loures foi indicado por Temer para cuidar dos interesses do grupo.

Em troca de propina, ele teria viabilizado nomeações e operações para a companhia. Temer e Loures são alvos de um inquérito que tramita no STF (Supremo Tribunal Federal) que apura a suposta prática de obstrução de Justiça e corrupção passiva. Na semana passada, uma decisão do Supremo afastou Loures de seu mandato como parlamentar.

Eleições diretas

No Congresso, também nesta quarta-feira, avançou a análise da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para a realização de eleições diretas, no país, mesmo após a retirada de pauta. Os deputados da oposição, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, mantiveram a pressão para a análise da PEC, de autoria do deputado Miro Teixeira (RDE-RJ).

No Senado, a CCJ também decidiu analisar a matéria, algo que foi considerado uma vitória da oposição. Michel Temer chegou a convidar os senadores do PMDB para um encontro, no Palácio do Planalto, mas parte da bancada não compareceu. Um abaixo-assinado, com 220 mil assinaturas também foi chegou à Câmara, pelas diretas.

Na noite passada, o presidente da comissão, deputado Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), retirou de pauta a proposta que autoriza a realização de eleições diretas, em caso haja vacância do presidente da República e do vice até seis meses antes do fim do mandato. A análise foi adiada por tempo indeterminado e somente será retomada por determinação do próprio Pacheco.

No início desta manhã, no entanto, o deputado Luiz Couto (PT-PB), em nome do partido e da oposição, apresentou requerimento para incluir novamente a PEC na pauta da comissão. Ao chegar à Câmara, Pacheco não passou pelo plenário do colegiado e foi discutir a situação da PEC com líderes da oposição. Do lado de fora da sala de reuniões, era possível ouvir o bate-boca entre os parlamentares.

Sabotagem

— Queremos que seja incluída na pauta ou convocada reunião extraordinária. É um projeto político do governo (em não deixar aprovar). Por que não vão para a luta? Temem a derrota na comissão. Nem isso eles querem. Estão inseguros com a maioria deles. Não querem se expor ainda mais em dia de 100 mil pessoas em Brasília — afirmou Jandira Feghali (PCdoB-RJ) ao sair da reunião. Jandira citava os protestos em marcha ao longo desta quarta-feira, na capital federal.

Na noite passada, deputados da oposição já haviam apresentado carta de requerimento para reunião extraordinária nesta manhã, para discutir a PEC, mas não foram atendidos.

— Pautarei no momento em que achar conveniente — disse Pacheco, após discutir com a oposição.

A discussão da PEC começou na véspera, mas a sessão da CCJ teve de ser suspensa com a abertura da ordem do dia pelo presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ). O início dos trabalhos em plenário suspende automaticamente o andamento das comissões. A iniciativa foi classificada como "sabotagem" pela oposição. Segundo afirmaram os parlamentares, a proposta não seria de interesse do governo, diante da atual crise política desencadeada com o escândalo da JBS.

— O presidente Rodrigo Maia sabotou a PEC das Diretas — afirmou o deputado Alessandro Molon (Rede-RJ), favorável à proposta.

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