Rivais em questões comerciais e no futebol, Brasil e Argentina estão prestes a entrar na disputa também pela liderança do mercado da dívida de países emergentes. Após protagonizar a maior reestruturação de dívida da história moderna, a Argentina lançou três novos bônus em substituição aos US$ 81,8 bilhões em títulos não pagos. Um dos três papéis lançados, o Discount Bond, já chama a atenção dos analistas.
- Ele vai ser enorme, vai reduzir todos os outros títulos da dívida de países emergentes - afirmou o analista de mercados emergentes Christian Stracke, da CreditSights, uma consultoria de investimentos em Nova York.
A Argentina planeja lançar cerca de US$ 20 bilhões em Discount Bonds, praticamente quatro vezes o volume em mercado dos dois principais títulos de países emergentes, o C-Bond e o Global-40, ambos emitidos pelo Brasil.
Analistas esperam que o novo papel faça reviver o tempo em que dois bônus Brady, o brasileiro C-Bond e o argentino FRB, disputavam a liderança do mercado.
Stracke afirmou que o título argentino deve ser vendido tanto em dólares quanto em euros mas ponderou que, mesmo que metade da emissão seja feita na moeda européia, o papel terá um volume em dólares "muito maior do que o do C-Bond ou do Global-40". O analista para a América Latina do ABN Amro, Fernando Losada, acrescentou que o Discount Bond argentino deve ocupar o lugar que, em importância, antes cabia aos antigos FRBs.
- Eu não diria que ele vai ser o principal bônus do mercado emergente, mas com certeza ele vai ser bastante líquido por causa do montante significativo que será lançado no mercado - disse ele.
Além disso, analistas acreditam que os investidores que não puderam participar da reestrutução da dívida argentina ou outros que apenas desejam investir devem impulsionar a demanda pelos Discount Bonds quando os papéis começarem a ser negociados no mercado secundário, em 1º de abril. Outro motivo para a esperada forte liquidez do Discount Bond é o fato de o papel ser destinado a investidores institucionais, que são bastante ativos no mercado.
Os outros dois bônus emitidos pela Argentina, de outra forma, serão destinados a investidores menos agressivos - de varejo, no caso dos Par Bonds; ou fundos de pensão, no caso dos Quasi-Par Bonds.
Líquido e volátil
Embora os novos bônus devam permitir que a Argentina tenha acesso aos benefícios do mercado internacional de capitais, eles devem expor o país vizinho ao mesmo tipo de turbulência a que o Brasil já está sujeito.
- Se você quer se integrar ao mercado internacional de capitais, você vai ter os benefícios disto mas também vai pagar o preço. E o preço é que você vai estar mais exposto ao que acontece no resto do mundo. Mas, na minha opinião, os benefícios superam os custos - disse Losada, do ABN Amro.
Quando querem reduzir rapidamente a exposição a mercados emergentes, os investidores vendem os bônus mais negociados, que encontram facilmente um comprador - atualmente os títulos brasileiros C-Bond e o Global-40. Para o bem ou o mal, os Discount Bonds devem se juntar a esse grupo em breve, embora alguns analistas digam que os papéis argentinos devem ser guiados muito mais pelos fundamentos do país neste momento.
- As pessoas estão um pouco mais confortáveis com os fundamentos brasileiros e, por isso, usam os bônus do país para negociar o mercado emergente como um todo. Mas na Argentina as pessoas querem ver mais o progresso da economia, da política econômica - explicou Stracke, da CreditSights.