A autoridade religiosa máxima da Arábia Saudita descreveu o envolvimento feminino na política como "abrir as portas ao mal"
Por Redação, com Reuters - de Riad
As mulheres da Arábia Saudita votaram pela primeira vez em eleições de conselhos locais neste sábado e também participaram como candidatas, um gesto saudado por alguns ativistas do patriarcado islâmico como uma mudança histórica – mas, para outros, tratou-se de uma medida meramente simbólica.
— Como primeiro passo, é uma grande conquista. Agora sentimos que somos parte da sociedade, sentimos que contribuímos. Conversamos muito sobre isso, é um dia histórico para nós — disse Sara Ahmed, uma fisioterapeuta de 30 anos, quando entrava em uma seção eleitoral no norte desta capital.
A votação, ocorrida na sequência de pleitos restritos a homens em 2005 e 2011, visa escolher dois terços dos assentos de conselhos que anteriormente só tinham poderes consultivos, mas agora terão um papel decisório limitado no governo local.
Esta ampliação adicional do direito de voto levou alguns sauditas a alimentarem a esperança de que a família real Al Saud, que exerce o governo nacional, de fato, eventualmente realize outras reformas que ampliem o sistema político.
A Arábia Saudita é o único país do mundo no qual as mulheres não podem dirigir, e o "guardião" de uma mulher, normalmente o pai, marido, irmão ou filho, pode impedi-la de viajar para o exterior, se casar, trabalhar, estudar e fazer certas cirurgias opcionais.
A Arábia Saudita e 'as portas do mal'
Sob o comando do rei Abdullah, que morreu em janeiro passado e que em 2011 anunciou que as cidadãs poderiam votar na eleição atual, foram adotadas medidas para as mulheres terem uma atuação pública maior, encaminhando mais delas às universidades e incentivando o trabalho feminino nas principais cidades da Arábia Saudita.
Mas, embora o sufrágio universal tenha sido um momento transformador em muitas outras nações em busca de igualdade de gêneros, seu impacto na Arábia Saudita deve ser mais limitado, devido a uma ausência mais ampla de democracia e do conservadorismo social persistente.
Antes de Abdullah decretar que as mulheres participariam do pleito deste ano, o Grã-Mufti, a autoridade religiosa máxima do reino, descreveu o envolvimento feminino na política como "abrir as portas ao mal".
O ritmo das reformas sociais no país árabe, que embora em última instância seja ditado pela família Al Saud, também é fortemente influenciado pelo cabo de guerra entre conservadores e progressistas sobre como o país deveria casar sua tradição religiosa com a modernidade.
Só 1,48 milhão dos 20 milhões de sauditas se registraram para votar nesta eleição, incluindo 131 mil mulheres – a apatia generalizada na Arábia Saudita é em parte o resultado de uma votação sem partidos políticos, leis rígidas para as campanhas e da restrição a temas locais.
Por hora, de acordo com algumas das eleitoras que foram às urnas neste sábado, as esperanças de mudança se limitam a estes temas.
— Acredito que as mulheres querem mais parques, bibliotecas para seus filhos, instalações de saúde e de cuidados com o corpo. E simplesmente ser parte das decisões — opinou a fisioterapeuta Sara.
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