O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, respondeu à Síria que não quer mais "reorganizações", e sim uma retirada total, preferentemente em abril, dos 14.000 soldados que ainda tem desdobrados no Líbano.
Em uma entrevista concedida ao canal de televisão por satélite pan-árabe "Al Arabiya", o diplomata ganês ressaltou além disso seu desejo de que a retirada coincida com a apresentação de seu relatório sobre a questão do Conselho de Segurança, dentro de dois meses.
- O que requereremos é uma retirada definitiva e não outra reorganização. - ressalta Annan em uma das partes que a Al Arabiya difundiu através de sua página na internet A televisão anunciou que emitirá a entrevista de forma integral hoje, sexta-feira, às 17:30 horas GMT (14.30 de Brasília).
Na mesma, o secretário-geral da ONU adverte também à Síria que o Conselho de Segurança pode empreender ações punitivas se o regime de Damasco desobedecer a resolução 1559, aprovada em setembro passado.
O citado documento, auspiciado por França e EUA, pede que a Síria retire de forma imediata as tropas desdobradas no vizinho Líbano, e cesse o poder tácito que exerce sobre este último país.
O Conselho de Segurança das Nações Unidas "pode adotar medidas (de castigo) suplementares contra a Síria se não cumprir com a resolução 1559", adverte Annan.
As palavras de Annan são a primeira resposta da comunidade internacional ao anúncio feito quinta-feira pelo ministro sírio de Defesa, Walid al Muallim, que reiterou mais uma vez a disposição de seu país de retirar as tropas, embora tenha voltado a evitar estabelecer uma data.
Al Muallim se limitou a repetir a cláusula do acordo de Taif, assinado em 1989, à qual Damasco recorreu todos estes anos para ignorar sua obrigação.
As tropas sairão quando "existirem garantias de que o Exército libanês é capaz de assumir plenamente as responsabilidades de segurança", disse o ministro.
Poucas horas depois do anúncio, seu colega libanês, Abdel Hamid Murad, confirmou que as tropas sírias começarão a concentrar-se "em breve" no vale da Bekaa, como passo prévio para sua retirada do Líbano.
Graças aos termos ambíguos do acordo de Taif, que pôs fim ao tempo de guerra civil libanesa (1975-1990), a Síria não começou a movimentar seus soldados no Líbano até 2001, ano no qual realizou sua primeira "reorganização" militar.
Desde então, Damasco ordenou outras quatro operações similares, a última delas em 22 de setembro quando movimentou a maioria dos soldados destacados em Beirute e no norte do país.
Ainda restam uniformizados no norte do Líbano e nas montanhas mais estratégicas, que dominam o leste e o centro do país, além dos concentrados no vale da Bekaa.
As pressões internacionais sobre a Síria aumentaram desde o assassinato em 14 de fevereiro em Beirute do ex-primeiro-ministro libanês, Rafik Hariri.
A essas pressões se soma a crescente hostilidade da oposição libanesa, contrária à presença militar síria, que acusou o regime de Damasco de instigar o magnicídio.
Tudo isso colocou em uma difícil e delicada posição o governo pró-sírio de Beirute, que na segunda-feira terá que enfrentar uma moção de confiança no Parlamento.
Annan exige retirada total de soldados sírios do Líbano
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Sexta, 25 de Fevereiro de 2005 às 04:47, por: CdB