Uma criatura que viveu há 6 milhões de anos e não tinha caninos proeminentes para lutar pode ser o primeiro proto-humano a ter escapado da linhagem dos macacos, disseram pesquisadores nesta quinta-feira.
Esse animal pequeno, de cérebro diminuto, pode fornecer boas pistas sobre a aparência do ancestral comum a chimpanzés e homens, segundo os cientistas. Fósseis desse antigo hominídeo foram encontrados na Etiópia há três anos e pareciam ser uma subespécie de um proto-humano já conhecido, o ``Ardipithecus ramidus''.
Mas os cientistas agora descobriram mais dentes de um grupo desse hominídeo, reclassificado como uma espécie diferente, batizada de ``Ardipithecus kadabba''. ``O 'Ardipithecus kadabba' pode também representar a primeira espécie do ramo humano da família, logo após a divisão evolutiva entre as linhas que levam aos modernos chimpanzés e humanos'', disse Yohannes Haile-Selassie, curador e chefe de antropologia física no Museu de História Natural de Cleveland, Estados Unidos, que dirigiu o estudo.
A descoberta foi publicada na edição desta sexta-feira da revista Science, sugerindo que o último ancestral comum entre humanos e chimpanzés tinha longos caninos usados para lutar -- algo que chimpanzés de hoje têm, mas humanos não.
Os pesquisadores escavaram fósseis de pelo menos cinco indivíduos que viveram em um ambiente florestal - hoje uma área seca e rochosa na região de Afar, na Etiópia, uma rica fonte de restos pré-humanos.
Esses fósseis permitiram concluir que se tratava de um hominídeo bípede, do tamanho de um chimpanzé, que viveu entre 5,2 e 5,8 milhões de anos atrás. Seis novos dentes foram encontrados no local em 2002, entre eles um canino superior, pré-molares de ambas as mandíbulas e os molares superiores. ``Vimos uma coisa muito primitiva nos dentes'', disse Haile-Selassie.
Uma característica importante é a capacidade dos dentes de se afiarem sozinhos. ``O canino passa pela face externa do pré-molar inferior e se afia dessa forma'', disse Tim White, da Universidade da Califórnia em Berkeley, que colaborou no estudo. ``É como amolar uma faca em uma pedra. Quase todos os macacos e todos os símios têm caninos muito longos e proeminentes com este mecanismo.''