Por mais que a política do premiê israelense para com os palestinos possa ser considerada truculenta, algo hoje se ostenta como uma avaliação correta de Ariel Sharon: o gelo que impôs ao sr. Yasser Arafat como interlocutor, desqualificando-o como representante de seu povo para elaborar com o governo de Israel a gênese de um estado palestino.
Quero com isso me referir às notícias que hoje se esparramam pelos jornais relativas à crise de segurança na Faixa de Gaza, que acaba de gerar uma cizânia na Autoridade Nacional Palestina, presidida por Arafat, com protestos da população civil palestina, e cujo desfecho ainda é incerto.
O premiê de Israel merece repúdio em muitas de suas ações - basta lembrarmos a construção do grotesco muro separando grandes trechos da Cisjordânia de Israel, sem respeitar fronteiras e traçados de povoados palestinos (cumpre lembrar que a Corte Internacional de Justiça, de Haia, órgão da ONU, condenou recentemente tal construção, porém - é bom que se atente - trata-se de mera resposta a consulta formulada pela Assembléia-Geral, vez que o estado de Israel não se submete à jurisdição da Corte e também os palestinos não constituem ainda um estado soberano, de modo que o decisão da Corte jamais teria natureza contenciosa, mas sim de mera consulta, como muito bem lembrou o juiz brasileiro integrante da CIJ, Francisco Rezek em recente entrevista).
Tais atitudes, todavia, não significam que o sr. Sharon sempre atue de modo grotesco em relação aos palestinos, pois sua política de isolar Arafat parece hoje merecer aplausos.
O sr. Arafat já deu mostras de que jamais estaria à altura de um estadista como Ben Gurion foi para o nascimento do estado de Israel (lembre-se que Gurion mandou bombardear um navio que trazia armamento para a facção judaica rival, de Menachen Beguin, para assegurar que os judeus não mais estariam dispostos a pegar em armas contra o domínio britânico, mas sim apenas lutar institucionalmente para a criação do estado israelense, ainda que para isso tivesse de lutar contra parte de seu próprio povo).
Sharon foi ao ponto nodal para fazer Arafat começar a perder sua autoridade - a exigência de que compartilhasse o poder com um primeiro-ministro, tendo de ceder seu poder inclusive na área de segurança interna, a fim de ter as garantias de que haveria um combate sério por parte dos palestinos contra os grupos paramilitares que promovem ações armadas (terroristas) contra a população civil israelense.
O autoritário e despótico Arafat começou a se afogar aí. Por certo que a imagem do Arafat de 1993, quando dividiu o Nobel da Paz com Yitzak Rabin por ocasião dos Acordos de Oslo, difere-se da figura do líder palestino que em 1964 discursou na ONU de arma no coldre.
Ocorre que não perdeu a substância de seu cacoete autoritário, despótico e nepotista, desde que teve de formar o primeiro governo palestino com Mahmud Abbas (Abu Mazen) e agora com Ahmed Korei, demissionário.
Não sabia - e ainda não sabe - dividir poder, sobretudo na segurança interna, e ser só presidente da Autoridade Nacional Palestina - exigência de Israel e dos EUA, e que são razoáveis para se tentar criar uma nação democrática na estratégica vizinhança de Israel.
Aliás, já desde 2000 desconfiava da impertinência de Arafat para conduzir a criação do estado palestino, quando acabou indiretamente fazendo o Likud de Sharon chegar ao poder, ao recusar os acordos de Camp David elaborados por Clinton e o então premiê trabalhista israelense Ehud Barak, desmoralizando-o internamente.
Ocorre que Arafat alimenta seu poder político dessa realidade atroz, não parecendo que tenha maior interesse em fazer mudar o 'status quo' da trágica situação palestina, de fato. O sr. Sharon esteve certo ao sufocá-lo e fazer com que tivesse de dividir poder, para que se começasse a demolir sua autoridade internamente.