O cineasta espanhol Pedro Almodóvar, que está em Roma para apresentar seu último filme, "A má educação", afirmou nesta segunda-feira que a produção "não é um acerto de contas com os padres, muito menos com a Espanha de 40 anos atrás".
Trata-se "de um filme do qual eu tinha de me livrar antes que se tornasse uma obsessão", disse o diretor à imprensa italiana, antes de insistir que se trata de uma fita "muito íntima" mas não autobiográfica.
O filme, que estreará na Itália no próximo dia 8, conta a história de duas crianças que conhecem o amor e o medo em um austero colégio religioso no início dos anos 60 e que voltam a se encontrar no final da década de 80.
O diretor disse hoje que o objetivo do filme não era ajustar contas com os padres, já que, se tivesse tido necessidade de se vingar, "não teria esperado tanto tempo".
"O que me interessa é comparar dois períodos históricos muito próximos e muito distantes, e seguir os cânones de um gênero narrativo que fala do romantismo desesperado e da melancolia profunda", assinalou.
Para Almodóvar, "A má educação" é uma fita "negra, que tem uma moral codificada própria, bem distinta da da vida normal". "No gênero negro", acrescentou, "não existem os bons e os maus, mas os desesperados e os piores entre eles".
O cineasta disse que no filme se ouve uma canção italiana dos anos sessenta de que ele gostava muito. Trata-se de 'Cuore Matto' (Coração Louco). "Acho que a idéia de coração louco corresponde perfeitamente a meu estado de ânimo e aos ímpetos de paixão de cada um de nós."
Almodóvar comentou ainda um de seus novos projetos, "Volver" (Voltar), uma produção que ele disse estar concluindo e que definiu como "uma comédia sobre a mania espanhola de acreditar em fantasmas e nos mortos que voltam".