Aliança pecadora contra o Irã
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Sexta, 13 de Março de 2015 às 12:00, por: CdB
O movimento para sabotar um acordo nuclear com o Irã - acordo que vem sendo tentado pelos governos americano, alemão, britânico, francês, chinês e russo - resulta da aliança do Primeiro Ministro israelense Benamim Netanyahu, com o Partido Republicano e a Igreja Evangélica, nos Estados Unidos.
O recente convite republicano a Benjamin Netanyahu para discursar perante o Congresso Americano, opondo-se ao acordo, foi fortemente apoiado pelos evangélicos.
Para os evangélicos, o apoio à ocupação de territórios palestinos por parte de Israel é dogma religioso. Eles entendem que a existência de uma “Grande Israel”, que necessariamente inclui os territórios em disputa (e além) é essencial para a “Segunda Vinda de Jesus Cristo” e o Triunfo sobre o Mal.
Essencial também para os evangélicos é que os judeus reconstruam o Monte do Templo, onde hoje existe a mesquita muçulmana conhecida como o Nobre Santuário.
Os evangélicos americanos constituem a principal base política do Partido Republicano, sobretudo nos estados considerados mais conservadores, ao sul do país e em seu interior.
Com a maioria de que dispõem hoje no Senado e na Câmara, os republicanos consideram essencial cultivar esta base política para reconquistarem a Casa Branca na eleição presidencial de 2016.
É claro que Benjamin Netanyahu, como judeu, não tem as crenças religiosas dos evangélicos, mesmo porque a Segunda Vinda de Jesus implicaria também numa conversão dos judeus ao cristianismo.
Para ele, porém, a aliança é fundamental, pois Israel precisa do apoio dos Estados Unidos em seu conflito com os palestinos e, mais ainda, em sua campanha para impedir que o Irã venha algum dia se tornar uma potência nuclear.
Por isto - e com muito dinheiro de Sheldon Adelson, um magnata sionista, proprietário de cassinos em Las Vegas e outras partes do Mundo - os republicanos e Benjamin Netanyahu preferem um ataque militar ao Irã do que qualquer acordo com os aiotolás.
Netanyahu apoiou a invasão americano no Iraque, dizendo que ela “resolveria um grande problema”. Agora, quer mais tropas, armamentos e dinheiro americano para uma nova aventura de consequências imprevisíveis.
Netanyahu dispõe de armas nucleares, mas não pode dispensar o sangue americano.
Nos Estados Unidos há mais divergência entre os judeus do que entre os evangélicos e republicanos quanto à política de Netanyahu (mesmo porque não há recenseamento militar obrigatório nos Estados Unidos e a grande maioria dos que se alistam é das classes mais pobres).
A recente “carta aberta” aos iranianos assinada por 47 senadores do Partido Rebublicano mostra que o partido está disposto a ir às últimas consequências para sabotar a presidência de Barack Obama, mesmo à custa de uma guerra com o Irã.
Dentro de Israel também crescem as vozes sustentando que, a longo prazo, a política de ocupação indefinida dos territórios palestinos e de um continuado conflito com o Irã será desastrosa para o país.
Na próxima semana, dia 17, haverá eleições para o Knesset, o Parlamento Israelense. Surge não apenas lá mas em muitas outras partes do mundo a esperança de que uma vitória do Partido Trabalhista, de Isaac Herzog, possa por fim ao longo domínio de Benjaminm Netanyahu, do Partido Likud, e sua política belicista.
José Inácio Werneck, jornalista e escritor, trabalhou no Jornal do Brasil e na BBC, em Londres. Colaborou com jornais brasileiros e estrangeiros. Cobriu Jogos Olímpicos e Copas do Mundo no exterior. Foi locutor, comentarista, colunista e supervisor da ESPN Internacional e ESPN do Brasil. Colabora com a Gazeta Esportiva. Escreveu Com Esperança no Coração sobre emigrantes brasileiros nos EUA e Sabor de Mar. É intérprete judicial em Bristol, no Connecticut, EUA, onde vive.
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