Vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar concedeu entrevista ao diário Folha de S. Paulo, publicada na edição deste domingo, na qual se diz pronto a assumir a Presidência, caso o presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja afastado em um possível processo de impedimento, votado no Congresso. Sua primeira decisão, diz ele, seria mudar a política monetária brasileira, trocar a equipe econômica e baixar os juros.
Alencar, no entanto, considera-se fiel ao presidente e contrário ao impedimento, embora confesse que deseja chegar à Presidência:
- Seria desonesto de minha parte dizer que não - afirmou.
Mas ele garante que não pretende mexer "uma palha" para prejudicar o presidente. Alencar credita as dificuldades vividas por Lula "ao despreparo da administração do PT". Ele também explica porque deixou o PL, alegando desconforto com a política e diz não pensar em nova filiação.
Leia a transcrição da entrevista:
Folha - O sr. sonha em chegar à Presidência da República?
José Alencar - Seria desonesto de minha parte dizer que não. Todo homem público tem o ideal de chegar à Presidência. Mas eu gostaria de fazer isso desde que disputasse (uma eleição) e não mexeria uma palha para prejudicar o presidente Lula. Sou vice-presidente da República graças à eleição dele, portanto a minha posição é de apoio a ele, de lealdade a ele, para que ele recupere o seu prestígio nacional e conclua o seu governo.
Folha - Há muita pressão, ou pelo menos muita conversa, para que o sr. apóie o impeachment ou a renúncia?
Alencar - Sim, é claro que há. Eu, como vice, obviamente sou alvo dessas perguntas. Muitas pessoas pensam que eu estou ansioso para que haja um impeachment do Lula. Sinceramente, não há isso. O que não significa que eu não queira ser presidente. Gostaria de sê-lo, com legitimidade, não assim. É claro que é legítima a substituição do presidente pelo vice, mas não mexerei uma palha para prejudicar o Lula.
Folha - E se acontecer?
Alencar - Se acontecer, independentemente da minha vontade, eu não abro mão do cumprimento do meu dever e não abro mão também dos meus direitos.
Folha - O sr. está pronto para assumir a Presidência?
Alencar - Claro, completamente.
Folha - O sr. acha que, a partir de todas essas denúncias sobre o esquema Marcos Valério, há indícios suficientes para abrir um processo de impeachment?
Alencar - Eu não sou especialista nisso. O que eu sei é que as CPIs, o Conselho de Ética, a Polícia Federal, todos estão investigando de forma rigorosa e cabal. Não posso fazer um prejulgamento, dizer que o que está aí já seja suficiente para justificar o impeachment do presidente.
Folha - Se chegar alguma prova ao presidente, o sr. é favorável ao impeachment?
Alencar - Não, veja bem, eu não preciso ser a favor nem contra. A rigor, sou contra o impeachment do Lula. Se for inevitável, é outra coisa, isso não é pelo fato de eu ser a favor ou contra.
Folha - Pelo que o sr. conversa com ele, o sr. acha que ele sabia de tudo o que acontecia?
Alencar - Eu penso que o Lula é vítima disso.
Folha - Vítima desse processo?
Alencar - Eu acho que é ele é vítima de todo esse despreparo da administração do seu partido. É só conhecer a agenda do presidente, não só interna como externamente, porque viaja muito, para saber que ele não teria espaço para estar cuidando da administração partidária.
Folha - Na sua opinião, a coisa está restrita ao PT, à campanha, ao caixa dois? E o envolvimento do governo?
Alencar - Não tem. E pelo que eu conheço e que está posto aí pelas investigações das CPIs, o contato direto do Marcos Valério era o dr. Delúbio, professor Delúbio, não era outra pessoa.
Folha - O que o sr. quis dizer com "despreparo do PT"?
Alencar - Realmente foi um despropósito