Polícia investiga relação com agressões sexuais contra mulheres no réveillon
Por Redação, com DW - de Berlim:
A cidade de Colônia registrou uma série de agressões contra estrangeiros na noite de domingo. Dois paquistaneses foram hospitalizados e um sírio teve ferimentos leves. A polícia investiga se os ataques são uma resposta de justiceiros aos crimes cometidos na noite de réveillon na cidade do oeste da Alemanha, quando dezenas de mulheres foram agredidas sexualmente por homens que, segundo policiais e testemunhas, tinham aparência norte-africana e árabe.
De acordo com o tabloide local Express, um grupo composto por membros de clubes de motoqueiros, hooligans e seguranças de casas noturnas teria marcado pelo Facebook uma "caçada" contra estrangeiros no centro de Colônia.
O primeiro incidente ocorreu por volta das 18h40 (horário local). De acordo com a polícia, um grupo de cerca de 20 pessoas atacou seis paquistaneses nos arredores da estação central de Colônia. Cerca de 20 minutos depois, cinco homens agrediram um cidadão sírio de 39 anos na mesma região.
No sábado, a polícia de Colônia dispersou uma passeata de hooligans e extremistas de direita, que protestavam contra as agressões ocorridas no réveillon. As forças de segurança foram atacadas pelos cerca de 1.700 manifestantes com garrafas, fogos de artifício e pedras. A polícia respondeu com canhões de água e bombas de gás lacrimogêneo e deteve 15 pessoas.
População se sente insegura
De acordo com um levantamento do Instituto Forsa para a rede de televisão RTL, mais da metade dos mil entrevistados (57%) afirmou temer que a criminalidade aumente na Alemanha com a chegada dos refugiados, enquanto 40% não compartilham esta preocupação.
Os acontecimentos do réveillon em Colônia não mudaram a opinião de 60% dos alemães sobre os estrangeiros. Mas 37% dos entrevistados afirmaram ter uma opinião mais crítica sobre os imigrantes após as agressões do Ano Novo.
Conforme a mesma sondagem, 59% das mulheres continuam se sentindo seguras, mesmo depois dos casos de abuso, e 28% até mesmo "muito seguras", enquanto 11% se sentem menos seguras e 3% "nada seguras".
Agressões
O ministro alemão da Justiça, Heiko Maas, afirmou acreditar que as agressões sexuais ocorridas na noite de réveillon em Colônia foram "coordenadas ou preparadas" e acusou grupos xenófobos e de extrema direita de tentarem tirar vantagem dos acontecimentos para propagar o ódio.
Em entrevista ao jornal alemão Bild am Sonntag publicada no domingo, Mass deixou claras suas suspeitas de que os crimes que chocaram o país não surgiram espontaneamente. "Que ninguém venha me dizer que isso não foi coordenado ou preparado", disse o ministro. "Minha suspeita é que essa data foi escolhida propositalmente, e que um determinado número de pessoas já era aguardado. Isso daria, mais uma vez, uma nova dimensão [aos crimes]".
O jornal forneceu detalhes de um relatório oficial do Departamento Federal de Investigações da Alemanha (BKA), que menciona o uso de redes sociais por alguns imigrantes do norte da África para encorajar seus conterrâneos a comparecer ao largo em frente à estação central, do lado da Catedral de Colônia.
Mass, porém, advertiu contra a generalização em relação a imigrantes. "Presumir a partir da origem de uma pessoa se ela é mais ou menos propícia a cometer crimes é algo irresponsável", disse o ministro, acrescentando que "não faz nenhum sentido" tomar esses crimes como prova de que os estrangeiros não estão aptos a se adaptarem à sociedade alemã.
Na reportagem do Bild am Sonntag, Mass acusa o partido eurocético e de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) e o movimento anti-imigração Pegida de usarem os eventos de Colônia para propagar a xenofobia. Para ele, AfD e Pegida estavam apenas esperando para que algo assim acontecesse. "Se não, como explicar essa vergonhosa agitação generalizada contra estrangeiros que eles estão fazendo."
Maas ressaltou que não há justificativa para o que aconteceu em Colônia. "O background cultural não justifica nem desculpa nada. Não é aceitável nem mesmo como explicação. Aqui, entre nós, homens e mulheres têm direitos iguais em todos os aspectos. Todos os que vivem aqui devem respeitar isso."
Nos próximos dias, o Partido Social-Democrata (SPD), de Maas, deverá se unir ao parceiro da coalizão governista, a União Democrata Cristã (CDU), para apresentar novas leis ao Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão) que visam acelerar a deportação de requerentes de asilo que cometerem crimes no país.
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