Rio de Janeiro, 30 de Outubro de 2024

Aceh celebra a retirada de tropas indonésias

Arquivado em:
Quinta, 29 de Dezembro de 2005 às 08:49, por: CdB

Uma cerimônia nesta quinta-feira marcou a retirada dos soldados indonésios que haviam sido mandados para reprimir um levante na província de Aceh. Calcula-se que cerca de 15 mil pessoas tenham morrido nos 26 anos de levante. A retirada dos 3.353 soldados é o último passo do acordo de paz firmado com os insurgentes, após o tsunami que destruiu a área há um ano. Correspondentes dizem que a escala da destruição motivou as duas partes a chegarem a um acordo.

- Vamos criar uma atmosfera de paz e livrar a população de Aceh de ameaças, físicas ou não - diz Supaidin Adi Saputra, comandante militar de Aceh.

Ele pediu para que antigos líderes separatistas se engajem na reconstrução da província. O acordo firmado prevê que o rebeldes abram mão de suas reivindicações por independência completa em troca de uma maior autonomia. Eles entregaram cerca de 800 armas para mediadores internacionais. O governo indonésio concordou em reduzir sua presença militar pela metade, mantendo um máximo de 14.700 soldados e 9.100 policiais na província, todos eles locais.

Fim da luta armada pode ajudar a recuperar a economia

Os moradores da província de Aceh, uma das regiões mais afetadas pelo tsunami de 26 de dezembro de 2004, tiveram um importante aliado no gigantesco esforço para recuper sua economia: o acordo de paz assinado entre os guerrilheiros separatistas e o governo. A economia da região já estava fragilizada antes da chegada da onda enorme que destruiu casas, empresas, plantações e matou milhares de pessoas. Mais de 29 anos de luta armada entre as guerrilhas separatistas do Movimento de Libertacao de Aceh (GAM) e tropas do governo, vinham impedindo o desenvolvimento da região, rica em recursos como gás natural e florestas e de grande potencial como atração turística. Em agosto passado, o GAM e o governo assinaram um tratado de paz e o desarmamento das guerrilhas está em fase de conclusão. O tratado redistribui a riqueza levantada com os recurso da região, em benefício da economia local.

- Durante a luta, a maioria dos nossos recursos naturais ia para o governo central e menos de 1% voltava para Aceh. Mas após o acordo, o governo prometeu que a província ficara com 70% de seus recursos naturais -  disse o cientista político Lukman Age, do Instituto de Aceh.

Age espera que, com a paz, seja possível industrializar cada vez mais a região. Mas para o coordenador de programas da ONG Oxfam, Claude St. Pierre, é preciso começar da recuperação da infra-estrutura básica da região.

 -Temos que olhar para o que foi destruído, como a pesca, a agricultura e o comércio. Para mim, esse é o caminho para começar. Não dá para inventar o que era Aceh. Tem lugares afetados por tragédias que demoraram dez anos para se recuperar de coisas como essa, então este será um trabalho longo  - disse St. Pierre.

O tsunami atingiu principalmente os pescadores, pequenos negócios e parte das poucas indústrias da região.

De acordo com um relatório da Oxfam, um milhão de empregos foram perdidos por causa do tsunami nos países atingidos. Cerca de 64 mil hectares de terras de agricultura foram contaminadas ou destruídas, uma área equivalente a 160 mil campos de futebol. O solo deverá levar entre dois a cinco anos para recuperar a produtividade. No campo de Neuhen, em Banda Aceh, líderes tentam organizar atividades comunitárias para levantar o moral dos moradores que continuam sem emprego ou casas permanentes. Em uma triste ironia, o campo fica no pé de colinas que costumavam ser usadas pelos guerrilheiros do GAM. A preocupação com a luta armada deu lugar à briga pela sobrevivência.

Tags:
Edições digital e impressa
 
 

Utilizamos cookies e outras tecnologias. Ao continuar navegando você concorda com nossa política de privacidade.

Concordo