Filha de Jucá sai na frente e garante direito de mineração em área de floresta virgem e índios ianomâmis.
Por Redação - de Brasília e Boa Vista
A extinção da Reserva Nacional de Cobre e Associados (Renca), uma área de terra maior do que a Dinamarca, estabelecida em 1984, foi motivo de comemoração para a família do senador Romero Jucá (PMDB-RR). Enquanto ambientalistas do mundo todo protestam contra a decisão monocrática do presidente de facto, Michel Temer, a filha do senador, Marina de Holanda Menezes Jucá Marques, contabiliza uma alta sem precedentes nas ações de sua empresa, a Boa Vista Mineração Ltda.
A empresa, por ser de responsabilidade limitada, não tem ações disponíveis no mercado. Analista financeiro ouvido pela reportagem do Correio do Brasil, na manhã desta segunda-feira, no entanto, garante que “hoje, cada fração dessa mineradora está com a cotação atrelada ao ouro”.
— A filha do senador saiu na frente. E isso, no mercado financeiro, é uma grande vantagem — disse o operador de uma casa de câmbio, que prefere manter o anonimato.
Jucá segue investigado no Supremo Tribunal Federal (STF) por suspeita de corrupção, obstrução de Justiça e formação de quadrilha.
Reserva Ianomâmi
Jucá vem tentando, desde 2014, ainda no primeiro mandato da presidenta cassada Dilma Rousseff, liberar o garimpo na reserva ambiental situada entre os Estados do Pará e do Amapá. A região é inexplorada e rica em ouro, entre outros minerais valiosos. Agora, o decreto encontra-se publicado no Diário Oficial da União (DOU) e a área, com 47 mil quilômetros quadrados, que abriga tribos indígenas, flora e fauna raras, será devastada.
— Haverá pagamento de royalties ao Poder Público e também à população indígena. Ganhará o direito à mineração aquele que pagar mais à comunidade indígena. Haverá uma licitação. Haverá todo o cuidado ambiental antropológico da Fundação Nacional do Índio (Funai) — disse o senador, em recente discurso no Senado
Líder do governo
Em 2 de abril, cerca de um mês antes do discurso de Jucá, a Boa Vista Mineração já havia garantido sua autorização. Hoje, está apta a explorar ouro em nove lotes de mais de 100 mil hectares de floresta primária, intocada. A maioria deles, em áreas indígenas. Marina Jucá, de 29 anos, é sócia majoritária da empresa que possui capital de R$ 2 milhões. Ao todo, 54,8% da superfície a ser desmatada é habitada por índios ianomâmis.
As intenções de Jucá quanto à região, no entanto, tiveram início ainda no governo Dilma Rousseff. Na época, Jucá era líder do Governo no Senado. Em fevereiro de 2014, a empresa da filha de Jucá foi autorizada a fazer estudos de viabilidade do local. O fato foi noticiado, sem muito alarde, na imprensa regional.
Leia, adiante, os principais trechos de matéria da jornalista Paula Rodrigues, no jornal Folha de Boa Vista, publicada em 2014:
Empresa ligada a Jucá é autorizada
pela União a pesquisar minérios em RR
O Conselho de Defesa Nacional, órgão consultivo da presidente Dilma Rousseff (PT) em assuntos relacionados à soberania nacional e à defesa do Estado democrático, publicou no dia 24 de fevereiro, no Diário Oficial da União, uma autorização prévia para que uma empresa ligada ao senador Romero Jucá (PMDB) possa pesquisar minérios em Roraima.
A empresa Boa Vista Mineração Ltda, que tem como cotista Marina de Holanda Menezes Jucá Marques, filha do parlamentar, poderá pesquisar ouro e basalto em 14 áreas diferentes do Estado. São 110.540,79 hectares divididos nos municípios de Amajari, Bonfim, Boa Vista e Cantá, inclusive na faixa de fronteira do Estado. Romero Jucá é autor do projeto de lei 1610/1996, que prevê a regulamentação da mineração em terras indígenas e que ainda está sob análise do Congresso Nacional. (…)
À época, a assessoria de comunicação do senador informou que a empresa de Marina Jucá explorava uma jazida de brita e que a aprovação do projeto anulará “todo e qualquer alvará que tenha sido concedido, em terra indígena, durante todo este período”, para a execução de licitações realizadas pelo DNPM.
Divisão
Em rápida pesquisa junto ao Sistema de Informações Geográficas da Mineração (Sigmine), é possível ter ideia da situação atual da divisão de terras para pesquisa por empresas em Roraima. Pela pesquisa, é possível ver a quantidade de empresas; pessoas físicas que se habilitaram junto ao DNPM para milhares de hectares em Roraima. Este seria, segundo apurou a Folha, o primeiro passo para que estejam aptos à exploração dos minérios.
Todas as informações disponíveis no sistema são oficiais e atualizadas conforme a periodicidade disponibilizada por cada instituição. Como a base do DNPM é dinâmica, os dados dos processos minerários são atualizados diariamente.