Rio de Janeiro, 22 de Novembro de 2024

Walter Firmo revisita Capital Federal, no aniversário de Brasília

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Sexta, 21 de Abril de 2023 às 13:50, por: CdB

Conhecido por registrar em diferentes trabalhos as pessoas mais simples, e também artistas e políticos, ficou impressionado com a força dos candangos. A obra do mestre da fotografia pode ser conferida também na mostra ‘No Verbo do Silêncio a Síntese do Grito’,  em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).


Por Redação, com ABr - de Brasília

Dos mais humildes aos poderosos. Das luzes às sombras. Nada escapou às lentes de um dos principais fotógrafos da história brasileira. Com obra consagrada e premiada na segunda metade do século XX, o carioca Walter Firmo, hoje aos 85 anos, notabilizou-se pelos registros poéticos e exclusivos por onde passou. No entanto, um dos momentos que o experiente profissional considera mais inesquecível foi uma cobertura no ano de 1957, quando registrou algo que ele chama de inacreditável: a construção de uma cidade para ser a capital do Brasil.

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O fotógrafo Walter Firmo registrou o erguimento da Capital Federal


Enquanto erguia sua máquina, emocionava-se, do outro lado do visor, com os princípios das edificações.

— Foi um sonho. Algo inacreditável. Parecia cinema — recorda Firmo.

Conhecido por registrar em diferentes trabalhos as pessoas mais simples, e também artistas e políticos, ficou impressionado com a força dos candangos. A obra do mestre da fotografia pode ser conferida também na mostra ‘No Verbo do Silêncio a Síntese do Grito’,  em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), na capital do país, com acervo que é preservado pelo Instituto Moreira Salles (IMS).

Candangos


Na capital, Firmo concedeu entrevista à agência brasileira de notícias ABr.
— O senhor conheceu Brasília nos anos 1950, antes da inauguração, certo?

— Eu estive em Brasília em 1957 (a serviço do jornal Última Hora, veículo fundado por Samuel Wainer). Eu tinha 20 anos de idade. Eu vi e fotografei  essa cidade sendo erguida. Eram só os começos dos prédios dos ministérios e na Praça dos Três Poderes, além de milhares de candangos em cima de caminhões. Eles trabalharam incessantemente. Foi assim que eu conheci Brasília. Fotografei Juscelino Kubitschek​ (ex-presidente) e  (Oscar) Niemeyer (arquiteto).
— E qual foi a sua impressão ao chegar nessa cidade que seria inaugurada?

— A minha sensação era que eu estava sobre um belvedere que iria surgir. Um lugar que seria o centro político das decisões do Brasil. O Juscelino fez um gesto gigantesco, de boa vontade, e que iria representar um crescimento do país. Ele interiorizou o país e o Brasil, que se diversificou.
— Antes da inauguração, o senhor ainda fez outros trabalhos na capital?

— Sim. Estive meses antes de inaugurar (em fevereiro de 1960) para cobrir a visita do então presidente norte-americano (Dwight) Eisenhouer. (Confira aqui o discurso  do presidente Juscelino nessa ocasião). A imagem dele saudando o povo e dando as mãos com Juscelino ocupou uma página inteira. Nunca mais esqueço disso.
— Além dos artistas e políticos, o senhor é consagrado também pela sua capacidade de traduzir  a negritude, os trabalhadores e os mais humildes. Como foi coletar as imagens dos trabalhadores de Brasília?

— O meu trabalho foi sempre fotografar as pessoas mais simples. Que respiram. Por serem simples, eles são mais humanos. A exposição de minhas fotos no Centro Cultural Banco Brasil (CCBB) mostra as pessoas simples. Eles são trabalhadores diferentes que ajudaram a construir esse lugar.
— O que o senhor encontrou de mais especial ao fotografar esses trabalhadores de Brasília?

— O que eles fizeram foi algo gigantesco. Era algo inacreditável. Parecia um sonho. Era uma coisa que parece que não era verdadeira. Brasília está aí mostrando a sua beleza. Outro dia, eu estava em Brasília e ouvi de uma senhora que o pai dela havia ajudado a construir a Catedral. Isso é muito belo.
— Aos 85 anos de idade, como é voltar a Brasília?

— Brasília é uma cidade brasileira singular, diferentes no mundo porque foi planejada. Quando se visita Brasília, pode se amar ou detestar, mas não se pode ficar indiferente. Eu gosto da diferença que essa cidade apresenta.
—  Ao voltar a Brasília, o senhor vê os trabalhadores da atualidade como viu antes da inauguração?

— Os trabalhadores continuam com esse espírito de luta. Mas não os candangos de antes. Eram homens que vieram do Nordeste, de uma simplicidade extrema. Pessoas que não tinham o que comer e se aventuravam em um lugar novo. Eles tinham um chapéu e uma bota, e nada mais. Esse tipo de operário eu não vejo mais hoje. Aquela saga foi algo inigualável e inesquecível.
— O senhor considera essa sua cobertura antes da inauguração algo inesquecível em sua carreira?

— Sim. Era algo que parecia cinema. Não vou esquecer nunca mais. Hoje ela está muito moderninha para o meu gosto (risos). Foi uma semente de uma era. Hoje, com 63 anos, ela não tem nada de velha. Ela é linda. Toda vez que eu passo por Brasília, eu me emociono. Eu sinto algo estranho dentro de mim. Foi triste assistir ao que ocorreu no dia 8 de janeiro, quando foi atacada e vilipendiada. É uma cidade que representa o sonho de muita gente. Brasília é transformadora e original.

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