Decisão do governo russo é uma resposta ao governo dos EUA, que autorizou a Ucrânia a atacar a Rússia com mísseis norte-americanos de longo alcance.
Por Redação, com CartaCapital e Sputnik – de Moscou
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, assinou nesta terça-feira, no milésimo dia da ofensiva do país contra Ucrânia, o decreto que amplia as possibilidades de uso de armas nucleares, depois que Washington autorizou Kiev a atacar o território russo com seus mísseis de longo alcance.
“Entre as condições que justificam o uso de armas nucleares está o lançamento de mísseis balísticos contra a Rússia”, afirma o decreto
“Era necessário adaptar nossos fundamentos à situação atual”, declarou o porta-voz da presidência, Dmitri Peskov, em uma referência ao que Putin considera “ameaças” do Ocidente à segurança do país.
Putin alertou em setembro que seu país poderia utilizar armas nucleares em caso de bombardeios aéreos em larga escala contra a Rússia.
Ele também disse que qualquer ataque de um país sem armas atômicas, como a Ucrânia, mas apoiado por uma potência nuclear, como os Estados Unidos, poderia ser considerado uma agressão “conjunta” suscetível de exigir tal medida.
Putin aprova doutrina russa atualizada de dissuasão nuclear
O presidente russo Vladimir Putin acaba de aprovar os fundamentos da política nacional da Rússia no campo da dissuasão nuclear, de acordo com o decreto publicado no site oficial de atos legais.
“A fim de aprimorar a política nacional da Rússia no campo da dissuasão nuclear, decreto: Aprovar os fundamentos anexos da política nacional de dissuasão nuclear”, indica o documento.
O decreto entra em vigor a partir do dia de sua assinatura, 19 de novembro.
Ele contém, entre outros, os seguintes parágrafos:
A política nacional no campo da dissuasão nuclear é de natureza defensiva;
A Rússia vê as armas nucleares como um meio de dissuasão, cujo uso é uma medida extrema e forçada;
Dissuadir um potencial adversário de agredir a Rússia e seus aliados está entre as principais prioridades do Estado;
A Rússia pode usar armas nucleares em caso de agressão que represente uma ameaça crítica à integridade territorial da Federação da Rússia ou de Belarus;
A agressão de qualquer Estado de uma coalizão militar contra a Rússia ou seus aliados é considerada como agressão dessa coalizão como um todo;
A Rússia se reserva o direito de usar armas nucleares em resposta à utilização de armas de destruição em massa contra ela ou seus aliados;
A Rússia exerce dissuasão nuclear contra um potencial adversário, quer sejam Estados, blocos e alianças que vejam a Rússia como adversário;
A dissuasão nuclear tem como objetivo garantir que um potencial adversário entenda a inevitabilidade da retaliação em caso de agressão contra a Rússia;
A política nacional no campo da dissuasão nuclear em caso de um conflito militar garante a cessação das hostilidades em termos aceitáveis para a Rússia;
O porta-voz da presidência russa, Dmitry Peskov, comentou a assinatura do documento dizendo que ele deve ser objeto de uma análise aprofundada tanto na Rússia quanto no exterior.
Quais seriam as implicações da decisão de Biden de permitir o uso de mísseis contra a Rússia?
A Casa Branca deu sinal verde para Kiev usar mísseis de longo alcance para atacar o território russo, segundo uma reportagem do The New York Times, publicada no domingo. Quais seriam as implicações da decisão do atual presidente?
Segundo informações dos meios de comunicação norte-americanos, que ainda não foram confirmadas nem pela Casa Branca nem pelo Pentágono, o governo do atual presidente Joe Biden teria permitido a Kiev utilizar os chamados Sistemas de Mísseis Táticos do Exército (ATACMS, na sigla em inglês) para atacar o território russo.
O presidente Vladimir Putin advertiu em setembro que tal cenário significaria que os países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) estariam diretamente envolvidos no combate contra a Rússia.
O anúncio acontece após meses de insistência de Kiev pedindo a Washington para utilizar os respectivos mísseis, em um contexto cada vez mais dramático para o lado ucraniano no campo de batalha.
Vale lembrar que, no início deste ano, a Casa Branca, que se recusava a enviar estes mísseis para Kiev desde o início do conflito, finalmente transferiu as armas para a Ucrânia, com a condição de que só seriam utilizadas dentro do território ucraniano.
Presente de Natal antecipado
Segundo Samuel Losada, internacionalista argentino formado pela Universidade de Belgrano, com esta virada Biden tentaria bloquear ou dificultar a proposta de Trump de buscar acabar com o conflito na Ucrânia e fazer com que as partes se sentassem para negociar.
– Armar ainda mais a Ucrânia e cancelar o bloqueio ao lançamento de mísseis de longo alcance contra a Rússia poderia gerar uma escalada do conflito, pelo menos no curto espaço de tempo, tornando o clima ainda menos favorável às negociações nos próximos meses – afirma o especialista.
Nesse sentido, Losada indica que a mudança de posição “confirma o teor belicista e intervencionista da política externa do governo de Joe Biden, apesar de há menos de duas semanas os próprios cidadãos terem votado contra, elegendo o novo presidente Donald Trump, que fez campanha prometendo acabar com os conflitos internacionais financiados por Washington e que têm sido muito críticos a Zelensky, bem como ao envio de ajudas praticamente ilimitadas pelo governo Biden para Kiev”, elaborou o especialista.
A este respeito, ele salienta que a decisão de Biden, a quem restam apenas dois meses no poder e sabe que deve agir rapidamente, “confirma que as elites ocidentais dão as costas aos eleitores e que optarão sempre por continuar financiando o complexo militar-industrial”.
O analista acrescentou que o próprio secretário de Defesa de Biden, general Lloyd Austin, era até sua nomeação membro do conselho de administração da Raytheon Technologies, a empresa de fabricação de armas que mais fecha negócios no âmbito militar com o governo dos EUA.
Para Moises Garduño, doutor e internacionalista pela Universidade Nacional Autônoma do México, com esta decisão, a administração Biden “enviou um presente de Natal antecipado”, ao governo sucessor.
– Trata-se de uma provocação para obrigar Trump a dialogar com o complexo militar-industrial estadunidense sobre a rota econômica que seguirá – disse o especialista em alusão ao possível fim do conflito na Ucrânia, já prometido pelo presidente eleito.
‘Irresponsabilidade manifestada’
O analista argentino Jorge Elbaum, sociólogo e doutor em ciências políticas pela Universidade de Buenos Aires, disse à Sputnik que esta decisão é uma “irresponsabilidade manifestada”, com a finalidade de pressionar o governo de Donald Trump a continuar o conflito na Ucrânia.
– A decisão de Biden parece ter sido para descontar a derrota iminente da Ucrânia e dos países da Otan contra a Federação da Rússia, querendo nestes últimos meses, antes de Donald Trump assumir, que a Rússia assuma de alguma forma a resposta a esta provocação, generalizando uma situação de perigo de escalada, inclusive nuclear, que teria como principais vítimas sem dúvidas as capitais dos países da Otan – considerou o especialista.