Nunca, desde o início dos registos, três meses consecutivos foram tão quentes como neste ano. "O colapso climático começou", disse o secretário-geral da ONU, António Guterres, após a divulgação dos dados.
Por Redação, com DW - de Bruxelas
O verão de 2023 foi de longe o mais quente já registado no Hemisfério Norte, anunciou nesta quarta-feira a Organização Meteorológica Mundial (OMM) e o programa Copernicus. Só no mês passado, a temperatura média ficou em 16,82 graus, a maior já registrada para o mês de agosto e a segunda maior média mensal que se tem registro, atrás apenas de julho.
De acordo com o programa europeu de observações climáticas, o período de junho a agosto registrou uma média de temperatura de 16,77 graus. A cifra é 0,66 graus acima do usual e significativamente superior ao recorde anterior de 16,48 graus, registrado em 2019.
– É provável que 2023 seja o ano mais quente (…) que a humanidade já conheceu – disse à agência francesa de notícias AFP a chefe-adjunta do Serviço de Alterações Climáticas do Copernicus, Samantha Burgess. "Os três meses que acabamos de viver são os mais quentes desde há cerca de 120 mil anos, ou seja, desde o início da história da humanidade".
Ainda que sua base de dados remonte a 1940, o Copernicus é capaz de traçar estimativas de milênios passados. Tudo isso graças a análises geradas por computador utilizando milhares de milhões de medições de satélites, navios, aviões e estações meteorológicas em todo o mundo.
Estação foi marcada por eventos extremos
Como resultado das altas temperaturas deste verão, pudemos observar uma série de ondas de calor, secas, inundações e incêndios florestais pelo mundo, alguns dos quais dramáticos, como na Ásia, na Europa e na América do Norte. Mas mesmo no hemisfério sul, onde junho a agosto são meses de inverno, as temperaturas atingiram máximas recordes.
– O aquecimento dos oceanos leva a um aquecimento da atmosfera e a um aumento da humidade, o que resulta em chuvas mais intensas e mais energia disponível para os ciclones tropicais – explicou Burgess.
El Niño pode ter impacto adicional
O período entre janeiro a agosto deste ano já é o segundo mais quente da história, atrás apenas de 2016, quando os termômetros subiram fortemente por causa do El Niño.
Agora, o mesmo fenômeno climático começa a ganhar força novamente, levando a sinais de alerta por especialistas.
– Nosso clima está implodindo mais depressa do que nossa capacidade de lidar com eventos climáticos extremos que afetam todos os cantos do planeta – disse o secretário-geral da ONU, António Guterres, sobre os dados revelados pelo Copernicus. Ele apelou ainda aos líderes mundiais: "Ainda podemos evitar o pior do caos climático, e não temos tempo a perder."
– A evidência científica é esmagadora – disse Burgess, vice-diretora do Copernicus. "Continuaremos a ver registros climáticos e eventos climáticos extremos mais intensos e frequentes impactando a sociedade e os ecossistemas até que paremos de emitir gases responsáveis pelo efeito estufa".