Enquanto Bolsonaro estimulou o consumo de remédio(s) sem eficácia em sua gestão, Tarcísio, sem cuspe e sem sinal de arma com as mãos, aboliu o uso do livro didático físico, contrariando, como fazia seu antigo chefe, as recomendações científicas e estudos avançados.
Por Douglas Samoel Fonseca e - de São Paulo
A história da humanidade é timbrada pela inquestionável contribuição da ciência enquanto caminho para obtenção de conhecimento, resolução de problemas surgidos em determinados tempos, lugares e contextos históricos, aperfeiçoamento e superação de conceitos e estudos científicos, além da elaboração de novos e valiosos questionamentos ainda sem respostas. A ciência é, por isto, uma forma categorizada de acúmulo do conhecimento a partir da(s) experiência(s) humana(s).
Apesar da farta produção, o Brasil recentemente passou por um período de apagão e aversão à ciência. O ex-Presidente Jair Messias Bolsonaro, que ficou à frente do Palácio do Planalto entre os anos de 2019 e 2022, adotou a ignorância como método de governo. No lugar de conduzir o país diante de inúmeros problemas, decidiu-se pela fabricação de um clima de guerra justamente para negar a eficácia do saber.
Uma vez instalado o caos, o então Presidente conseguia avançar em suas pautas e atender aos seus aliados de ocasião. Neste cenário, recordemos que Bolsonaro i) facilitou o acesso da população civil a armas, ii) financiou o estudo cívico-militar; iii) promoveu ofensivas contra o aborto legal; iv) reduziu verbas para o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dentre outras questões absolutamente questionáveis.
Estado de São Paulo
Com uma estampa nova, típico de um procedimento facelift, Tarcísio de Freitas foi eleito governador do Estado de São Paulo e conserva a mesmíssima forma de governo de seu ex-chefe, Bolsonaro pai. Embora não utilize uma linguagem agressiva, carregada de palavrões e de um falso populismo do Capitão, Tarcísio produz um clima de tensão para alcançar objetivos escusos de seus aliados.
Na pandemia, Bolsonaro negou a existência do vírus e a eficácia da vacina, mesmo diante de estudos científicos produzidos por todo o mundo. Todavia, foi ele, o Capitão, contraditoriamente, o garoto propaganda na venda de ivermectina e hidroxicloroquina, ainda que sem nenhuma comprovação de resultado.
Enquanto Bolsonaro estimulou o consumo de remédio(s) sem eficácia em sua gestão, Tarcísio, sem cuspe e sem sinal de arma com as mãos, aboliu o uso do livro didático físico, contrariando, como fazia seu antigo chefe, as recomendações científicas e estudos avançados.
Bolsonaro e Tarcísio
A semelhança e os métodos de operar entre Bolsonaro e Tarcísio não guardam relação apenas no que dizem respeito à ojeriza ao conhecimento e da artificialização do caos. Vai além, já que são ávidos por atender seus aliados financeiramente.
O governo de Bolsonaro, na pandemia, exigiu propina de US$ 1 por dose da vacina em virtude do fechamento de contratos com o Ministério da Saúde. Já no governo do ocupante do Palácio do Bandeiras, Tarcísio de Feitas, o seu secretário de Educação detém três contratos (objeto de investigação) com a pasta pelo fornecimento de 97 mil notebooks às escolas, o que custam R$ 75 milhões aos cofres do Estado.
Na fase inicial da pandemia, Bolsonaro pediu que seus seguidores filmassem o interior de unidades hospitalares para averiguar a ocupação dos leitos, criando-se, a partir de tal estímulo, riscos aos pacientes e constrangimento aos profissionais da saúde, como médicos, enfermeiros e auxiliares. Já Tarcísio, por sua vez, determinou que diretores e coordenação pedagógica monitore os professores em sala de aula.
Embora revestida de certo ar de formalidade, posto que a medida é decorrente de portaria, a finalidade de Tarcísio é idêntica àquela outrora incitada por Bolsonaro, qual seja: ignorar a ciência e as recomendações de especialistas no assunto, produzindo-se risco(s) e constrangimento(s) aos profissionais da área da educação, tal como seu mentor fez, à época, com os profissionais da saúde.
A ciência avançou, e seguirá avançando. Porém, Bolsonaro e Tarcísio seguirão sendo os mesmos negacionistas, independentemente da mão de verniz que se dê.
Douglas Samoel Fonseca, é graduado em História pela PUC/SP, mestrando em Psicologia Social pela mesma instituição, Coordenador do Cursinho Popular Padre Ticão da Frente Democrática de Ermelino Matarazzo (FDEM).
Maria Lúcia Samoel Fonseca, é assistente social e integrante da Frente Democrática de Ermelino Matarazzo (FDEM). É uma das coautoras do livro Democracia e(m) Crise: o travamento de lutas populares em Defesa do Estado de Direitos, editora Pedro & João, 2020.
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